Reitoráveis discutem estrutura do poder em debates na USP

Em três debates realizados entre os candidatos à Reitoria nos dias 16 e 17 de setembro, questões ligadas à estrutura de poder da USP voltaram a ser dominantes. Tanto na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) e no Instituto de Ciências Biológicas (ICB) quanto na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) os reitoráveis concordaram, apesar de algumas diferenças, com a urgência de mudanças.

“O sistema eleitoral da USP é profundamente anti-republicano. Uma parte importante das pessoas que decidem é indicada pelo reitor”, afirmou Francisco Miraglia, professor do Instituto de Matemática e Estatística, que é defensor de estatuinte para “separar quem tem o poder de quem decide como o poder é exercido”.

Glaucius Oliva, diretor do Instituto de Física de São Carlos, é defensor apenas de uma reforma do estatuto, visando também maior participação. “As escolhas de dirigentes devem envolver todos aqueles que estão efetivamente engajados com a universidade. Não há razão nenhuma, por exemplo, para que os conselhos departamentais e as coordenações de graduação e as de pós-graduação não sejam envolvidos no processo” endossou.

Wanderley Messias, coordenador da Coordenadoria de Comunicação Social, seguiu com as críticas. “Todo sistema que se diz democrático e exige muita explicação não é bom. Ele deve ser mais simples e também incitar a participação política do cidadão uspiano”. Nesse sentido, Miraglia ainda citou, sendo endossado pelo próprio Messias, o fato de que a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) prevê uma representação de 70% para docentes, 15% para alunos e 15% para funcionários.

O diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), Sylvio Sawaya, além de somar-se aos discursos acerca da urgência de diálogo, tratou de descentralização. “Eu vejo a universidade dividida em cinco regiões, cada uma com um vice-reitor. Tudo que for administrativo, cotidiano, pára no vice-reitor e o reitor passaria a ser um coordenador”.

Da mesma questão tratou João Grandino Rodas, diretor da São Francisco. “O papel da Reitoria deve ser mínimo, ou seja, ela zelaria pela aplicação das regras mínimas, administrativas e acadêmicas. Assim, as unidades teriam uma autonomia maior, inclusive orçamentária”. O professor defendeu que, dessa forma, caberia ao reitor abrir caminhos, inclusive através de financiamentos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e bancos mundiais.

Sônia Penin, diretora da Faculdade de Educação, afirmou que os debates em torno da universidade não devem ficar restritos ao período de eleições e reforçou a necessidade de a USP ter posicionamento político. “Nós somos demandados pelo que vêm de fora, mas devemos demandar dos governos, das assembléias e de setores como a indústria e trabalhadores a melhora da educação no país”.

Ruy Altafim, Pró-Reitor de Cultura e Extensão, reiterou a necessidade de debate. “Um reitor, muito mais do que um dono de idéias, é um coordenador das diretrizes da Universidade”. Armando Corbani, Pró-Reitor de Pós-Graduação, que também se disse a favor de uma reforma “no limite da LDB”, ainda complementou. “Temos de melhorar nossas relações. Criar canais de comunicação para um aprofundamento das questões em geral”.

O primeiro turno das eleições está marcado para dia 20 de outubro e o segundo para 10 de novembro. A partir desse processo, uma lista tríplice é formada e o governador de São Paulo escolhe dela o próximo reitor.