USP vira abrigo de cães abandonados

Apesar da ajuda de voluntários, animais ainda adquirem doenças e são mal-tratados no campus

(ilustração)Em 2001, a portaria no 3.306, aprovada pelo reitor Jacques Marcovitch, reconhecia o grande número de animais no campus e criava o Programa USP Convive, “de coexistência responsável, proveitosa e saudável entre seres humanos e animais domésticos de pequeno porte”. Uma das primeiras medidas tomadas foi a criação de um canil próximo à ECA. Além disso, “comissões locais” de cada unidade seriam responsáveis pelo cuidado com os bichos que vivessem nas imediações de seus prédios.

Oito anos depois, a impressão é de que há certo descaso com a questão. O canil da ECA foi desativado em 2004 e o USP Convive deixou de existir. O pouco cuidado que se vê hoje é em ações isoladas de voluntários.

Um dos grupos que auxiliam na remoção dos cães do campus é o Patinhas On-line. Seus integrantes recolhem parte dos animais encontrados e os encaminham para um canil, onde recebem cuidados médicos. Uma das medidas tomadas é estimular a adoção através da página na Internet www.patinhasonline.com.br, na qual é possível encontrar imagens dos cães disponíveis no abrigo. Além disso, são organizadas feiras para adoção.

Segundo Beth Rapoczkay, funcionária da FFLCH e uma das voluntárias do canil, “os gastos com veterinário e os cuidados com os animais só podem ser feitos através de convênios com hospitais e de ‘apadrinhamentos’”.

Faltam condições

Contudo, o canil está operando acima de sua capacidade. “Temos espaço para 50 cães, mas abrigamos cerca de cem. Não recebemos mais animais do campus. Há matilhas que acabam dependendo dos cuidados dos estudantes”, diz.

Para Kalel Schibelscky, aluno de letras que ajuda a cuidar de alguns dos cachorros que vivem no Crusp, o principal problema é o abandono. “As pessoas têm a impressão que a USP é o paraíso, que podem largar seu animal e alguém vai cuidar. Não é assim. Muitos cachorros ficam doentes aqui e morrem. O campus não pode servir de abrigo para cães abandonados”. Beth conta que foram registrados casos de animais envenenados, espancados, esfaqueados e até mesmo de baleados dentro do campus.

Soluções

O professor Fernando Ferreira, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, comenta que o melhor modo de controlar os bichos dentro da USP é monitorar sua população e, se possível, castrar.  “A esterilização é uma pratica definitiva e sem prejuízo para o animal”, fala.

A conscientização é vista como fundamental. Segundo Kalel, “a universidade precisa se posicionar contra o abandono, que é crime. Além disso, campanhas publicitárias deveriam estimular a adoção”.

O abandono de animais é crime previsto por lei e a pena é de 1 a 3 meses de reclusão ou multa de R$500,00 por animal abandonado.