Entidades desconfiam de reitor

A tensão política que marcou a gestão da atual reitora Suely Vilela, com uma ocupação da Reitoria em 2007 e a entrada no campus da polícia militar no primeiro semestre, é só um dos problemas herdados pelo futuro administrador da USP, João Grandino Rodas. Nesse contexto, há grande expectativa em relação às atitudes que tomará o atual diretor da São Francisco após a posse, no dia 26.

O novo reitor angariou 104 votos no último escrutínio do segundo turno das eleições, obtendo a posição de número dois na lista tríplice encaminhada ao governador José Serra. No entanto, recebeu apoio de figuras importantes no cenário político nacional, como Celso Lafer, que foi ministro de Estado e embaixador, e Dalmo de Abreu Dallari, professor catedrático da Unesco.

Além disso, ganhou carta de apoio de três ex-reitores da USP, Antônio Hélio Guerra Viera Filho (1983 a 1986), Flávio Fava de Moraes (1993 a 1997) e Adolpho José Melfi (2001 a 2005). “Foi um apoio simbólico, pois não voto em nenhum dos dois turnos. Acho que é necessário diversificar os reitores e pareceu-me oportuno trazer alguém da Faculdade de Direito, o que não ocorria desde o professor Miguel Reale (1969-1973)”, disse Hélio Guerra . “Além disso, a carreira dele fora da USP pesou para minha decisão também”.

Segundo Melfi, a falta de diálogo é hoje o principal problema da USP, o que Rodas, de acordo com ele, está disposto a resolver. Gabriela Hipólito, uma dos diretores do Diretório Central dos Estudantes (DCE), no entanto, discorda e classifica Grandino como “truculento”, citando o fato de ele ter chamado a polícia militar para a São Francisco em 2007, a fim de cumprir ordem judicial de reintegração de posse. Apesar disso, ela disse que o DCE quer dialogar e está aberto “a qualquer canal de diálogo com a reitoria para discutir o projeto da universidade”.

Já o diretor de base do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), Magno de Carvalho, não se mostra tão otimista. “Estou há 32 anos aqui e parece haver uma disputa para ser o pior reitor. Esperarmos que o Grandino não siga essa praxe, mas não tenho boas expectativas. Não dá para esperar nada de um reitor eleito anti-democraticamente, num processo em que 300 escolhem por 108 mil”.

De acordo com ele, houve uma reunião com Rodas antes da definição da eleição, na qual os representantes dos funcionários pediram “o fim dos ataques a seus representados e aos alunos”. “Dissemos que ele está herdando uma gestão muito ruim para resolver. E deixamos claro que se ele não encerrar os processos administrativos contra nós e não atender às nossas reivindicações terá guerra”.

O presidente da Associação dos Docentes da USP (Adusp), João Zanetic, disse que “será mantida a pauta de reivindicações, como a questão da Estatuinte e a reforma da carreira”. Revelou ainda que a Adusp vai convidá-lo para ir a uma reunião da entidade.