Manifestações atrasam processo eleitoral

Após ser inviabilizado por manifestação organizada pelo DCE e Sintusp, o segundo turno das eleições para reitor, marcado para ocorrer dia 10 às 13h30, foi transferido para o dia seguinte,e teve o local da votação também alterado. Em iniciativa inédita, o pleito foi realizado fora do campus: na biblioteca do Memorial da América Latina, na Barra Funda.

O 1º dia

A manifestação do dia 10 contou com a participação de alunos dos campi de Ribeirão Preto, Piracicaba, Lorena, São Carlos, USP Leste, São Francisco, além de representantes das outras universidades estaduais (Unesp e Unicamp), de movimentos sociais (como o MST) e de entidades estudantis nacionais e estaduais. “Bloqueamos a porta para que os membros do Co não pudessem entrar. Continuaremos aqui o quanto for necessário”, disse Débora Manzano, aluna de Fonoaudiologia e umas das diretoras do DCE (Diretório Central dos Estudantes).

O boicote às eleições foi, segundo seus organizadores, uma maneira de protestar contra o caráter antidemocrático que acreditam que o modelo possui. “Foi necessário deixar claro que essas eleições não são legítimas”, declara Manzano.

A mudança de lugar

Por volta das 14h, a Reitoria comunicou que, em virtude dos acontecimentos, o segundo turno seria realizado no dia seguinte, em local a ser definido. “A universidade colocou todos os meios para que a eleição pudesse ser realizada hoje conforme previsto. Infelizmente, isso não foi possível diante da ação de pessoas que fizeram piquete, desrespeitando o direito de ir e vir”, disse Ignácio Poveda, presidente da Comissão Eleitoral. “Tendo em vista que alguns eleitores não estavam conseguindo entrar no local de votação, não havia outra saída, nos termos do artigo 21 do Estatuto, senão suspender a eleição”, concluiu.

“Tenho certeza de que a grande maioria das pessoas que está nas salas de aula e nos laboratórios de pesquisa não está satisfeita com isso”, disse Glaucius Oliva, candidato a reitor. Já Francisco Miraglia, outro candidato, declarou que “As pessoas têm o direito de se manifestar”.

A mudança no local das eleições foi comunicada pela reitoria, por volta das 19h do dia 10, através de nota que informava que o segundo turno ocorreria no Memorial da América Latina, sem maiores esclarecimentos. A súbita mudança do lugar das eleições para fora dos muros da USP surpreendeu estudantes e funcionários.

“Eles se acovardaram”, disse Thiago Muniz, do 4º ano de Letras e funcionário da biblioteca da FFLCH. “É um absurdo. Se eu não me engano, é a primeira vez na história da USP que a eleição para reitor é fora do campus”, diz Vinícius Zaparoli, aluno de Letras e um dos diretores do DCE. “Isso é o coroamento da anti-democracia que é a USP”, completa Magno de Carvalho, diretor do Sintusp.

Suely Vilela, atual reitora da Universidade, afirmou que “realizar a eleição fora do campus, devido às manifestações, não representa nenhum constrangimento”.

O 2º dia

Assim que se soube da decisão de mudança do local, o DCE e o Sintusp organizaram uma mobilização para o Memorial. Doze ônibus para o transporte dos manifestantes saíram da frente Reitoria no período da manhã.

Cerca de 150 pessoas encontravam-se nos portões do Memorial às 13h40. Um carro de som bloqueava o trânsito no sentido Pacaembu-Centro e a presença da Polícia Militar, junto à Guarda Universitária, era notória. “A PM está em todos os portões do Memorial”, disse Zaparoli. “Estão tentando inviabilizar a manifestação”. A PM se recusou a informar o JC sobre a operação e o efetivo ali presente.

“Nossa idéia é mostrar nosso repúdio ao processo eleitoral e constranger seus participantes”, diz Zaparoli. “Um dos representantes dos funcionários foi impedido de entrar para votar por fazer parte do movimento”, completa. Segundo Magno de Carvalho, após 40 minutos de discussão, o representante pode participar do pleito.

Houve um atrito entre manifestantes e a PM, que insistia em liberar o trânsito antes da dissolução da manifestação, que só ocorreu por volta das 15h30. Às 16h já não havia mais manifestantes no local.

PM esteve presente ao longo de toda a manifestação na quarta-feira (foto: Yuri Gonzaga)
PM esteve presente ao longo de toda a manifestação na quarta-feira (foto: Yuri Gonzaga)