Presença partidária divide estudantes

“É natural que as pessoas que tenham atuação e interesse político nas universidades também os tenham na sociedade”. A fala é de Ester Rizzi, membro da coordenadoria da Associação de Pós-Graduandos (APG) desde 2008, e refere-se ao único consenso entre participantes do movimento estudantil entrevistados pelo JC: todo estudante tem o direito a abraçar ideologias e filiar-se a partidos políticos.

Segundo Flávia Valle, membro da Liga Estratégia Revolucionária – Quarta Internacional (LER-QI), a atuação política é importante, pois o movimento estudantil tem a necessidade de buscar um aliado político para suas lutas. Desse modo, um isolamento ante a sociedade seria evitado. Débora Manzano, diretora do Diretório Central dos Estudantes (DCE, cuja chapa gestora é ligada ao PSTU), diz também que a presença de partidos ajuda na elaboração de pautas para a mobilização estudantil. Isto porque eles têm projetos para a educação e encontram na universidade um espaço para lutar por eles. Além disso, o partido se disponibiliza a discutir as pautas com os estudantes e analisar sua validade de acordo com as leis. “Mas quem acolhe isso [as pautas] ou não são os estudantes da universidade”, ressalta, referindo-se à participação estudantil através das assembleias.

Rodrigo Neves, do CDIE (foto: Luísa Costa)
Rodrigo Neves, do CDIE (foto: Luísa Costa)

Tais assembleias, no entanto, não refletem os reais interesses dos estudantes. É o que diz Rodrigo Neves, co-fundador da Comissão de Defesa dos Interesses Estudantis (CDIE). Ao citar enquetes virtuais a respeito da última greve, mostrou que elas tiveram resultados bem distintos dos obtidos nas reuniões. Nesse sentido, acredita que “sempre houve a gestão do partido, e não dos estudantes”, já que, para ele, o espaço das assembleias não é amplamente aberto a quem não é partidário da esquerda.

Consensos partidos

Tendo em vista os partidos de esquerda, mais atuantes na mobilização, Rizzi questiona: “por que grupos que têm pautas semelhantes para universidade estão separados?”. Ela afirma que esse questionamento revela a tensão entre questões internas e externas à universidade.

“Eu acho ruim quando as pautas da universidade ficam relegadas a um segundo plano em relação a pautas externas. [As chapas] acabam internalizando na universidade disputas que não lhe seriam próprias, e daí enfraquecendo posições em relação a pautas que lhe seriam consensuais”. Contudo, para ela é legítimo que cada grupo tenha sua forma de fazer política. “Eu não sei se isso é solúvel e não sei se é ruim”, diz.

Futuros políticos

Ao falar de partidos que utilizam o espaço universitário para angariar filiados e políticos, Flávia Valle cita o PSOL. “Eles usam bastante militância universitária para formar parlamentares e assessores de parlamentares”. Já Rodrigo Neves acredita que essa é uma preocupação que não é restrita ao PSOL, e a classifica como condenável. “Não acho certo usar a máquina do DCE e dos CAs para fazer isso”, diz.

Para ele, se os partidos têm um projeto educacional para a universidade, devem preocupar-se em esclarecê-lo a toda a população, que paga impostos e sustenta a universidade. Neves ainda afirma que não se deve focar em uma “pretensa elite letrada” para defendê-los.