USP abriga ciclismo paulistano

Ciclistas treinam diariamente na Raia Olímpica (foto: Yuri Gonzaga)
Ciclistas treinam diariamente na Raia Olímpica (foto: Yuri Gonzaga)
Durante os dias de semana, das cinco às sete horas da manhã, as ruas da USP se transformam em um grande circuito de ciclismo. São aproximadamente 300 pessoas por dia, amadores ou profissionais, que ocupam parte das vias para a prática da modalidade.

Aos sábados, sem o trânsito costumeiro de um dia útil, o número de atletas chega mesmo a dobrar, transformando a Cidade Universitária no principal ponto de encontro do ciclismo dentro de São Paulo.

De acordo com o português Mario Roma, ciclista profissional que já foi 3º colocado no campeonato mundial 24 horas de Mountain Bike, a USP é o único lugar dentro da cidade em que ainda se pode praticar a modalidade. “É o que nos restou. Infelizmente, São Paulo não promove mais espaços para que a gente possa pedalar” diz Mario, que anda de bicicleta no campus desde 1991, quando veio para São Paulo.

Uma das vantagens vistas pelos praticantes são as grandes dimensões da USP. Há até mesmo um “circuito” de 10 km traçado por eles, que abrange as áreas próximas à Raia Olímpica, à Rua dos Bancos e ao prédio da Reitoria. Um trajeto nessas proporções, segundo Mario, é inexistente em outros parques da cidade.

Portões fechados

Entretanto, a prática do ciclismo na USP nem sempre foi livre. Marcel Mendes, presidente de um grupo de ciclistas chamado “100 boleto”, diz que o tráfego de bicicletas já foi proibido na Cidade Universitária. Após problemas com atletas que abusavam da velocidade, a permissão foi suspensa em 2005.

A opção, então, foi a utilização das estradas para os treinamentos. Mas, após a morte de dois dos ex-usuários da universidade, atropelados no acostamento da rodovia dos Bandeirantes em um período pouco maior que uma hora, houve um apelo pela volta da concessão. Tal autorização foi negociada pela Federação Paulista de Ciclismo.

Faltam condições

Apesar da preferência, contudo, o campus não é um paraíso para os ciclistas. Casos de violência e assaltos têm se tornado freqüentes.
Marcos Pestana, atleta amador que pedala na USP, conta que uma amiga sua foi abordada enquanto subia a rua do Matão. Cinco garotos levaram sua bicicleta, mas acabaram abandonando o objeto roubado depois que a Guarda Universitária foi acionada.

Há também, segundo Marcel, casos de assaltos à mão armada e de arrombamento de automóveis dos ciclistas enquanto estes estão estacionados.

Além disso, há testemunhos de desrespeito por parte de motoristas e até mesmo de pedestres com os ciclistas. “As pessoas acham que a bicicleta tem condições fáceis de desviar”, comenta Marcos.
Outra reclamação é quanto à falta de sinalização que oriente o trânsito e contribua para a prática do esporte.

Já a estrutura da Cidade Universitária não é liberada ao uso dos atletas. Os banheiros do Cepeusp e da Raia, por exemplo, não são abertos aos ciclistas.

Soluções

Dentre as possíveis ações para a melhoria da relação entre ciclistas e trânsito, Mario aponta que uma cultura de convivência poderia ser criada. “Um dos caminhos seria traçar algumas linhas imaginárias. Por exemplo, ônibus do lado direito, ciclistas do esquerdo, carros no meio, criando um hábito”, recomenda.

Para os esportistas, as melhorias contribuiriam para o ciclismo paulistano como um todo. “Talvez eu nem praticasse esse esporte se não existisse o campus. Não arriscaria minha vida em uma estrada todos os dias. Na verdade, sentimos a USP como sendo nosso quintal”, afirma Marcel Mendes.