“A escolha teve outros contornos”

Para Glaucius Oliva escolha do governador não se baseou em uma análise aprofundada das qualidades dos candidatos

Primeiro colocado em ambos os turnos das eleições para reitor, o professor Glaucius Oliva, do Instituto de Física de São Carlos, tornou-se uma figura política forte na USP. Nesta entrevista, ele comenta a decisão do governador José Serra de indicar para a Reitoria João Grandino Rodas, segundo colocado nas votações. Além disso, fala de sua campanha eleitoral e dos planos para o futuro.

Oliva acredita que o apoio da atual reitora foi um ponto forte de sua campanha (foto: Yuri Gonzaga –– 8/10/2009)
Oliva acredita que o apoio da atual reitora foi um ponto forte de sua campanha (foto: Yuri Gonzaga –– 8/10/2009)

Jornal do Campus: A decisão do governador José Serra foi bastante rápida, um dia após o segundo turno. Houve alguma conversa e discussão de projetos com os candidatos? A decisão, se política, como muitos apontam, não fere a lógica da lista tríplice de que o governador deve escolher como representante da sociedade – e não de um determinado grupo político?
Glaucius Oliva: A sociedade é quem paga as contas da Universidade, portanto, nada mais justo que ela opine sobre seus projetos e visão de futuro. A forma encontrada em nosso estatuto foi atribuir ao governador do estado, representante eleito da sociedade paulista, a responsabilidade da escolha do reitor a partir de lista tríplice eleita pela universidade. Neste sentido, estranhou um pouco, não só a mim, mas a toda a comunidade universitária, a forma rápida com que esta decisão foi tomada, aparentemente sem uma análise mais aprofundada dos projetos e das qualificações dos candidatos. Ficou a impressão de que a escolha teve outros contornos, talvez políticos, partidários ou pessoais, e isso não é muito bom para a Universidade como um todo.

JC: Na sua visão, o que faltou na sua candidatura para que o governador ratificasse a escolha dos colégios eleitorais?
GO: Entendo que minha candidatura obteve sucesso porque tinhamos um programa de gestão moderno, com amplo leque de ações concretas, construído de forma compartilhada e defendido com grande entusiasmo nas diversas palestras, debates e visitas às Unidades. Faltou mostrar isso tudo à classe política externa, secretários de estado e ao próprio governador.

JC: Alguns apontam o apoio da atual reitora Suely Vilela como ponto fraco de sua campanha. O que o senhor pensa sobre isso?
GO: Na qualidade de Diretor do IFSC e membro do Conselho Universitário (CO), tive a honra de servir à Universidade como presidente da Comissão de Atividades Acadêmicas (CAA), eleito pelos meus pares, e como presidente da Comissão de Planejamento, indicado pela reitora, como previsto no Regimento Geral. No processo sucessório, a Reitoria demonstrou isenção e equilíbrio, até porque entre os candidatos havia colaboradores diretos da sua gestão e outros indiretos, incluindo o Professor Rodas, que, como eu, presidiu uma comissão estatutária do CO (CLR) e também foi indicado pela reitora como presidente da Comissão de Reforma Estatutária.  Se, como a maioria dos eleitores, a reitora identificou nosso projeto como sendo o melhor para a Universidade, só posso me sentir honrado, e não acredito que isso deva ser classificado como um ponto fraco de minha candidatura, pelo contrário.

JC: A vitória em ambos os turnos da eleição o fortalece como figura política dentro da USP. Como o senhor pretende agir nos próximos anos? Como usar esse peso para ajudar nas mudanças necessárias na USP?
GO: Tenho como verdadeira casa – e trincheira – a sala de aula e o laboratório de pesquisa, para onde volto com grande alegria e com a sensação de dever cumprido, por ter tido o privilégio de servir à Universidade de São Paulo. Vou também continuar trabalhando intensamente pela USP, como Diretor do IFSC e membro do Conselho Universitário, defendendo a autonomia universitária, as idéias que apresentei em nosso projeto e colaborando com o que for necessário para o sucesso da nova gestão.

JC: Flávio Fava de Moraes, Jacques Marcovitch e Adolpho José Melfi, reitores eleitos pela universidade respectivamente em 1993, 1997 e 2001, perderam eleições antes de vencerem posteriormente. O senhor chegou em primeiro. Há pretensão de uma nova candidatura daqui a quatro anos?
GO: Se daqui a quatro anos houver consenso entre as pessoas envolvidas no processo sucessório, eu me disporei a trabalhar como fiz agora. Nunca tive o desejo do cargo de reitor em si, apenas aceitei o desafio de levar adiante um projeto modernizador e essencialmente acadêmico para a USP. Mas não tenho nenhuma aspiração pelo poder, não faço disso meu projeto de vida. No entanto, não me furtarei em servir a Universidade na posição em que for chamado.