Entrevista com João Grandino Rodas: Carreira docente

JC: Houve um processo de reforma da carreira no início do ano que gerou bastante polêmica. Qual a sua opinião sobre ela?
Rodas: Eu participei, fui presidente da comissão e nunca se imaginou que aquilo fosse a reforma da carreira docente. Foi um meio, pragmaticamente possível naquele momento, para que mais da metade dos docentes da USP, 3500 dos 5700, que são doutores e associados, pudessem ter o direito de progressão horizontal, que os funcionários já possuem, e um salário melhor, o que é indispensável para a universidade atrair as pessoas de fora, para que os melhores venham a ser professores. No nosso programa, essa discussão está claramente colocada e precisa continuar.

JC: Existe a possibilidade, na continuação dessas conversações, de inclusive se revogar os níveis horizontais?
Rodas: Claro, existe. Agora, precisa-se verificar se isso é benéfico.

JC: E em relação à questão do “produtivismo”? Alega-se, por exemplo, que esses níveis horizontais aumentariam a pressão por produção sobre os docentes…
Rodas: Isso é importante. Em primeiro lugar, houve uma preocupação em relação à crítica que se faz à universidade de que hoje só se valoriza a produção de papers de pesquisa, deixando de se considerar o ensino e a extensão para a progressão da carreira. Se vocês forem ver os artigos aprovados pelo CO, lá tudo está claro. Isso não é produtivismo, é basicamente igual aos outros modos da carreira, não é quem mais produz. Claro, se você tem um interstício de cinco anos, tem que fazer alguma coisa, mas não é “você fez mais, ganha mais, você fez menos, ganha menos”. A pessoa não pode passar os cinco anos sem fazer nada, tem que apresentar algo a mais.

Além disso, dentro das exigências colocadas no Estatuto estão claramente as aulas que o docente dá, a pesquisa levada a cabo, o que publica, a extensão feita e até mesmo a administração que ele faz, porque ninguém quer administrar. Para que administrar um departamento se você vai ficar sem fazer papers e vai ficar sem receber da Fapesp, sem aquelas dezenas de artigos que os cientistas gostam de demonstrar?

JC: Qual a sua opinião sobre a avaliação dos rankings nos quais a USP tem se destacado? Alguns alegam que haveria maior pressão por quantidade de produção devido a isso…
Rodas: Os rankings são muito diferentes, cada um mede uma coisa diferente. Por isso, a USP em um está no trigésimo e em outro no centésimo. Assim, deve-se olhar o conjunto das medições, para saber se você está razoavelmente bem, não apenas um só.

JC: Como o senhor pretende resolver o pagamento do gatilho?
Rodas: A questão do gatilho vem há tanto tempo, que às vezes nos parece indecifrável. Eu não sei os detalhes, pois essas coisas não são públicas. A primeira coisa a ser feita é ver em que pé isso está no Judiciário. Ao invés de esperar que ele peça um documento para daqui uns meses pedir outro, vamos sentar e ver quais são todos os documentos necessários. Não é possível pagar com o orçamento? Vamos ao governo do estado. Não é possível pagar de uma vez? Parcelaremos. Já recebi gatilhos no seu todo e parcelado em 12 vezes. Isso deve ser resolvido.