Entrevista com João Grandino Rodas: Eleição

JC: Por que a decisão de ser reitor?
Rodas: Na verdade nunca resolvi ser reitor. A única coisa que resolvi foi ser professor da Universidade. Depois que terminei a graduação e fiz o primeiro mestrado na Europa, voltei e recebi um convite da Faculdade de Educação, o que era permitido na época – era mais fácil virar professor.

Comecei como professor lá e na faculdade de Direito, com dois turnos simples. Eram dois vínculos empregatícios distintos e não era possível ter um turno completo e muito menos dedicação exclusiva, que na época era bastante rara.

Justamente por essa razão, de sobrevivência, também trabalhei como advogado e fui durante vários anos advogado de empresa. Na Faculdade de Educação, durante três noites por semana eu dava aula, e dois dias na de Direito.

O fato de ter sido diretor da faculdade não foi uma idéia minha, mas num determinado momento e sob certas circunstâncias um grupo perguntou por que eu não me candidataria, que eles apoiariam. E assim aconteceu, embora antes o que eu tenha feito dentro da escola tenha sido ser chefe de departamento. É importante também lembrar que dez anos depois de começar a dar aula, depois de 71, deixei a Faculdade de Educação porque tendo feito um curso para magistratura não era possível ficar com três vínculos empregatícios públicos. Então deixei um deles, justamente aquele menos ligado ao direito, pois a lei permite que o juiz tenha um emprego de docente, mas ligado à área. E foi com pena, claro, que deixei a FE, onde eu era professor doutor e dei aula durante dez anos, e passei a atuar como magistrado e professor na Faculdade de Direito.

Na FD fiz Doutorado e livre docência em direito internacional, mas os mestrados foram variados porque o primeiro foi em ciências político-econômicas na Faculdade de Coimbra. Em Harvard fiz direito do comércio internacional. Na Fletcher fiz mestrado em diplomacia.

JC: Não seria interessante para um reitor ter formação na área administrativa?
Rodas: É importante lembrar que a especialização que fiz na Faculdade de Educação – curso de Pedagogia – foi em administração. O curso de Pedagogia é um pot pourri, e na época escolhi administração escolar, que estava mais próxima do Direito. Apesar de muito tempo ter se passado, muitos conceitos básicos permanecem

JC: O senhor foi o 2º mais votado. Por isso o senhor acha que entra na reitoria mais enfraquecido? Pretende buscar apoio? E a relação com o governador facilita a administração?
Rodas: Em primeiro lugar eu diria que o modo como o reitor é escolhido realmente precisa mudar, como os oito candidatos falaram. Achamos que é necessária uma abertura de representatividade. É claro que, dependendo da pessoa, essa abertura tem latitudes mais amplas ou menos, mas o que colocamos sempre é que pelo menos a representação deve ser a da LDB (Lei de Diretrizes e Bases). Pelo menos como um começo, um consenso. Mas isso é uma questão que será colocada no primeiro C.O. (Conselho Universitário) como um dos pontos importantes para discussão dentro do prazo de um ano: senão iremos nos aproximar das próximas eleições. E não é bom discutir regras de eleição às vésperas da mesma.

Em segundo lugar, fomos todos escolhidos dentro das regras atuais. Então, já foi dito claramente que elas precisam mudar. Mais especificamente, nós temos hoje dois turnos. Um mais amplo e outro muito estreito. Qualquer um que examine o que aconteceu nesse segundo turno e nos passados vai perceber que a eleição fica muito perto de grupos pequenos e muito dependente do poder que está em exercício. É interessante examinar que na última vez isso mudou, pois acabou não sendo escolhido o candidato das pessoas que estavam no poder. Quanto a essa questão, isso é legal, e a idéia de se ter três pessoas que a maior autoridade do Estado escolha se justifica, pois a Universidade é sustentada pelo dinheiro público. O governador é uma pessoa escolhida pelo voto, e é importante que a universidade tenha uma escolha interna, feita pela lista-tríplice, mas também uma do governador, pois isso dá a ele uma maior responsabilidade para com a própria universidade.

JC: O seu projeto foi discutido com o governador antes da escolha?
Rodas: Não, eu nunca havia conversado com o governador particularmente. Havia apenas o visto em lugares públicos, cumprimentado, trocado duas palavras. Não houve pedido de apresentação de projeto nem nada, mas os projetos são públicos. Todos tinham site, principalmente os dois mais bem colocados. A própria comunidade os viu.

O que eu diria é que não me considero mais forte ou mais fraco por causa disso. As pessoas que levantam essas questões não aceitam o processo como um todo. Então como você pode não aceitar o processo como um todo e criticar um pedaço dele? Essas são as regras, se precisarem ser mudadas, serão. A questão da lista-tríplice traz uma responsabilidade do governo para com a universidade e o determinismo da escolha do primeiro é algo que não aconteceu sempre no passado. Inclusive a lista já foi sêxtupla, na qual a margem de escolha do governador era praticamente total. Quem pediu para passar a ser tríplice foi a universidade quando houve a última mudança, e o pedido foi até o Supremo Tribunal, que acabou aceitando-a.

Notem que não estou querendo justificar nada, é apenas um fato histórico, mas o que ocorreu não é apenas legal mas também usual. Na própria gestão que está a terminar, lembro de pelo menos três diretores escolhidos pela reitora que não estavam nos primeiros lugares.

Então, nesta próxima gestão, nós sugerimos, se colocará uma bandeira importante que é a valorização da unidade. Como teremos a valorização da unidade, já digo de antemão: nunca escolherei o terceiro dos diretores que serão submetidos na lista porque estamos em um patamar distinto – dentro da universidade. Como estamos dentro, não se trata de um poder político externo que precisa ser co-responsável, mas é diferente. Pelo fato de valorizarmos a unidade, serão sempre os primeiros. Acho que isso é importante se quisermos valorizar a unidade.