Entrevista com João Grandino Rodas: Organização interna

JC: Durante a campanha, o senhor falou bastante da autonomia de cada unidade em relação à Reitoria. Como o senhor vê a questão? Que tipo de decisões elas vão tomar sozinhas, quais vão passar pela administração central?
Rodas: No desenho da universidade, até vinte anos atrás, quando as Pró-Reitorias foram criadas, nós tínhamos a Reitoria e as unidades, as quais têm importância fundamental, pois são elas que fazem a atividade fim da universidade: o ensino, a pesquisa e a extensão. Ou seja, elas fazem a atividade fim e a Reitoria faz a atividade meio, o que não a diminui. Por que ela existe? Porque a idéia da universidade não é ter escolas isoladas pura e simplesmente. O próprio nome “universidade” pressupõe a totalidade dos conhecimentos e também, por outro lado, um grau bastante amplo de pensamentos diferentes, pois se não houver nada é criativo. Então, o que é necessário é a interdisciplinaridade.

As unidades são importantes, mas precisam de um norte comum que defina a universidade. A Reitoria – e as Pró-Reitorias – precisa estimular que se faça regras básicas para a universidade. Como no Brasil, São Paulo e Alagoas precisam seguir as mesmas regras federais. Mas isso feito, eles podem fazer outras coisas. Com as unidades é assim, aquelas regras básicas, administrativas ou de outros gêneros estando claras, a unidade sabe que, seguindo-as, poderá fazer seus próprios passos.

Não dá para dizer “agora vocês vão andar juntas” para a Politécnica com 515 professores e a Faculdade de Educação Física com 15. Não é possível. Não que uma seja melhor que a outra, mas as aspirações e as condições são diferentes. Cabe à Reitoria supervisionar se uma dessas escolas está saindo das regras. Isso leva à desconcentração do poder, que não é fácil, mas possível. De que adianta ter uma Coesf e uma consultoria jurídica em Ribeirão Preto se a decisão final de tudo é em São Paulo?

Além disso, há a desconcentração orçamentária. Hoje, cada unidade recebe apenas o custeio, ou seja, água, luz, telefone. Precisa haver uma parte do investimento na mão da direção, que, apoiada tecnicamente pelo Coesf e pela CJ, não precisará vir pegar dinheiro na Reitoria. Isso dá a cada unidade mais autonomia.

JC: E ela poderá deliberar por ela mesma…
Rodas: Seria algo como “uma construção até x” ela poderia deliberar, porque se for fazer uma construção de 10, 20 milhões precisaria consultar a administração. É necessário fazer regras, que são evolutivas. Não se vai abrir a porteira no primeiro dia completamente. As Pró-Reitorias não podem ser estruturas que resolvam as coisas sem que as unidades saibam. Por exemplo, o que aconteceu há pouco na questão do vestibular. Sou diretor da Faculdade de Direito, membro do Conselho Universitário e presidente da CLR (Comissão de Legislação e Recursos) e soube da mudança do vestibular no jornal, assim como outras pessoas da USP. E vestibular é importantíssimo, tem que passar por mais pessoas e não apenas pela Pró-Reitoria. Deve haver equilíbrio entre o poder das unidades e o da Reitoria, que deve controlar isso.

JC: E em relação à promoção de maior integração entre alunos das faculdades e mesmo dentro das faculdades?
Rodas: No Direito nós temos uma matéria que se chamava Medicina Legal e hoje se chama Medicina Forense. Havia cadeiras no Direito e na Medicina. Com o tempo, isso se perdeu em ambas as faculdades. Qual a saída? Já vem sendo feito há um ano e meio um núcleo não separado como antes, participando o Direito, a Medicina, a Farmácia, a Filosofia, a Psicologia e outras. E há também uma pós-graduação em direito forense. A partir disso, forma-se professores e técnicos fabulosos.

Um outro exemplo se passa na pesquisa, onde há trabalhos coletivos em que vários cortes são levados. E também existe a possibilidade, como na Faculdade de Direito, em que 40% das matérias que um aluno curso são escolhidas por ele. Desses percentual, há uma parte que pode ser feita em qualquer parte da USP. Se alguém quer fazer direito da concorrência, vai precisar de mais economia, mais estatística. Direito penal necessitará de psicologia, sociologia e até química. Deve-se possibilitar que se faça cursos na USP inteira.