Entrevista com João Grandino Rodas: Política

JC: Como aumentar entre os alunos o interesse sobre as questões políticas da USP?
Rodas: No momento em que a universidade ficar mais aberta, no sentido de que qualquer cidadão puder abrir a internet e olhar as coisas básicas como orçamento, gastos e documentos públicos dos órgãos colegiados haverá mais interesse. Hoje se pensa “O que vou discutir? Com que base?”, eu que estou aqui há quarenta anos – e mais cinco como aluno – não sei. Isso aumenta o desinteresse.

No que a universidade gasta além de funcionários? Pode-se dizer, felizmente, que, no Brasil, a universidade é um dos lugares mais isentos da corrupção. Há talvez algumas impropriedades, mas corrupção não se vê em grande quantidade. Publicar os documentos não é por causa disso. É para ajudar a se ter certo controle dos gastos. Alguns podem ser legais, mas pode-se dizer “Mas nesse item você gastou isso? Será que isso é apropriado? Talvez não”.

E há também a tentativa de chamar as pessoas. Uma sugestão do professor Sawaya [Sylvio Sawaya, diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e candidato à Reitoria] foi realizar a votação eletrônica de todos que participam da USP para que se tivesse posições. Não estou definindo nada, mas é uma possibilidade interessante.

Há nos últimos 20, 25, 40 anos uma crise de confiança entre os segmentos da universidade. O dirigente desconfia do aluno, o aluno não confia a priori no dirigente e o funcionário também não. Todos estão desconfiados, com um pé atrás e, somando uma certa rigidez de representação e uma certa falta de transparência nas coisas que acontecem, isso é horroroso.