Após 12 anos, Coseas tem novo coordenador

Professor Waldyr Antônio Jorge, da Faculdade de Odontologia, assume em meio à crise no Crusp e promete gestão de diálogo
O reitor confiou ao professor o apaziguamento das tensões no Crusp (foto: Eduardo Graziani)
O reitor confiou ao professor o apaziguamento das tensões no Crusp (foto: Eduardo Graziani)

Um dia após tomar posse, o novo coordenador da Coseas concedeu entrevista ao JC em que apontou desafios e problemas que irá encontrar em sua administração. Ele também comentou sobre a ocupação e como deverão ser os próximos desdobramentos.

Jornal do Campus: Como se deu o processo de escolha?
Waldyr Antônio Jorge: Foi uma nomeação do dia 9, mas na realidade no dia 12 que foi segunda-feira, eu vim junto com o chefe de gabinete conversar com a doutora Rosa Godoy e coloquei-a bem a vontade a respeito da transição que tem que ser harmônica. Nesse sentido eu falei que ela teria todas as condições e o tempo que desejasse para poder deixar a coordenadoria sem atropelo. De comum acordo eu passei a coordenar a Coseas no dia 15, quando fiz minha primeira reunião com a diretoria.

JC: Foi feito um convite?
Waldyr Antônio Jorge: Foi feito um convite formal do magnífico reitor. A história curricular dele mostra muito o seu perfil de um jurista, um diplomata e ele nos convocou na sexta feira, dia 9, através do chefe de gabinete. Na realidade eu acho que é uma troca de guarda, uma corrida de bastão que toda a nova administração tem os seus projetos, tem as pessoas e as vezes há a necessidade de haver essa troca, na universidade isso é comum. Esses cargos são de indicação, não são de eleição. É um cargo administrativo do órgão central e a doutora Rosa estava a mais de 12 anos. Eu reconheço que ela fez várias coisas boas pela Coseas, com absoluta certeza ela foi competente naquilo que ela se propôs a fazer, a minha impressão dela é de honestidade, lisura, uma personalidade atuante, preocupada com os destinos de sua profissão, da Coseas e da própria universidade e eu não tenho reparo nenhum a fazer no que diz respeito à sucessão. Nós procuramos fazer uma sucessão harmônica. Embora tenha vindo a solitação, a convocação, o convite, do magnífico reitor, nós respeitosamente viemos no gabinete dela, não houve nenhuma turbulência.

JC: O senhor não hesitou em nenhum momento?
Waldyr Antônio Jorge: Eu não hesitei porque um pedido, uma solicitação de um superior hierárquico, educadamente, é uma convocação. Eu me sinto honrado; é um desafio, mas eu sou uma pessoas que fui pautado minha vida toda para enfrentar desafios e é gratificante pois exige da gente desdobramentos de conhecimento, de competência, de envolvimento com os pares, com as pessoas novas que vão nos conhecer e nós vamos conhecê-las. Vamos procurar fazer algo melhor daquilo que está até hoje. Embora no Brasil seja complicado falar em cumplicidade, pois as pessoas pensam na cumplicidade do mal, eu uso muito o termo “cumplicidade do bem”. Voce tem que ter o envolvimento das pessoas que te cercam pra que você tenha essa “cumplicidade do bem”, do bem fazer, do bem realizar, do compromisso, da respeitabilidade, da boa intenção, envolver as pessoas. No serviço público, via de regra, as pessoas não gostam de se envolver. Você tem uma comunidade uspiana, um corpo docente altamente qualificado, de pesquisadores, professores. Nós temos funcionários altamente envolvidos com a universidade. Nós temos um corpo de alunos que tem orgulho em estarem na melhor universidade da América Latina, nós temos que ter essa cumplicidade que permeia todas essas áreas.

JC: Como está a Coseas em termos de funcionários, pagamentos, almoxarifado?
Waldyr Antônio Jorge: Esse é meu segundo dia como coordenador, mas eu já percorri todas as áreas, fui conhecer funcionário por funcionário. Foi até uma surpresa porque eles me disseram que em outras ocasiões as transições foram menos amistosas, mas eu fui a cada uma das salas da administração, ainda hoje ( dia 15 ) quero ir conhecer todos os funcionários envolvidos no restaurante central, que é o eixo, a valvula motriz de toda a Coseas, porque nós estamos promovendo a parte social e nós temos a obrigação de dar o melhor para nossa comunidade. No bandejão vem aluno, funcionários,professores então nós temos que dar o melhor. Eu quero conhecer todo mundo, todos os funcionários e já disse a eles: a porta está aberta. Eu sou uma pessoa de diálogo, eu esgoto todas as formas até que a gente chegue em uma solução. Não sou uma pessoa de truculência, nem de imposição, mas tudo tem um certo limite. Quando não há uma possibilidade depois de todos os diálogos se esgotarem, todas as propostas se esgotarem, o coordenador, o chefe tem a responsabilidade de chamar para si a competência de tomar uma decisão. Mas, eu encontrei boas condições e nós vamos levar nos próximos 60 dias uma avaliação mais precisa sobre áreas críticas, no entanto eu não encontrei nada que eu olhasse e dissesse que está crítico, a não ser a questão dos alunos na promoção social.

JC: Há perspectiva de novas contratações? Novos concursos?
Waldyr Antônio Jorge: Eu e o vice-reitor, nós vamos tentar resgatar para a Coseas algumas substituições automáticas de claros que se abriram, principalmente na creche e no restaurante. Nós vamos ter que discutir, não é um coisa rápida. Uma coisa que eu aprendi ao longo desses anos é que a universidade é um grande, maravilhoso e fantástico transatlântico. Ela não é um jet-ski que você dá um giro de 180 graus ou de repente muda de direção. As vezes as mudanças são lentas, graduais e, portanto tem que ser consistentes e seguras. Quando eu digo que vou pleitear o preenchimento desses claros é algo que também não é num estalar de dedos, mas nós vamos fazer interlocuções para fazer com que o sistema seja constantemente arejado.

JC: Quais os projetos em relação aos bandejões? Haverá implementação do sistema de acesso com créditos no cartão?
Waldyr Antônio Jorge: Foi um programa desenvolvido pelo centro de informática do Campus “Luiz de Queiroz”, em Piracicaba. Será uma economia de tempo, de papel, as coisas ficarão mais fáceis e não terão impacto no preço dos tíquetes. Nós já estamos praticamente em vias de conclusão, tem que se ordenar o sistema, os aparatos finais e eu acredito que, no máximo, em 30 dias esteja em funcionamento. Tudo que é bom nós queremos estender, então, mais pra frente pretendemos colocar essas catracas também nos outros bandejões.

JC: O que ocorreu com o bandejão da Física que foi fechado para reforma e reabriu sem nenhuma alteração?
Waldyr Antônio Jorge: No momento em nao tenho informações sobre o assunto. Eu tenho algumas prioridades, a primeira é equacionar esta invasão porque ela está nos incomodando. Em paralelo readequar todos os setores de atuação. Os projetos que já estavam em andamento no cronograma vão ser instituídos, outros tantos como essa reforma e outras tantas que ocorreram nós vamos ver os resultados se foram dentro das necessidades, se atendem aos nossos padrões, se atenderam as reinvidicações. Se alguma coisa não estiver a contento nós vamos ver o que tem que ser refeito. Eu não quero nada longe do meu conhecimento e vou trabalhar delegando, eu sou uma pessoa descentralizadora, eu pauto de delegar deveres. As pessoas sempre querem pensar nos seus direitos, mas esquecem que nós só temos nossos direitos quando cumprimos os deveres.

JC: Há perspectiva para a ampliação das vagas nas creches do Campus?
Waldyr Antônio Jorge: Por hora não. Na reunião de diretoria discutiu-se a questão prioritária das substituições automáticas para que se consiga manter o que temos e fazer projeções de melhora. Hoje nós estamos no limite. Temos que respeitar o “time” da faculade, mas tem setores que esse “time” tem que ser acelerado, como na creche. O que puder ser feito e havendo condições financeiras, nós vamos implementar e incrementar.

JC: Como ficarão suas atividades junto à Faculdade de Odontologia?
Waldyr Antônio Jorge: Uma das coisas que eu pedi ao reitor foi exatamente que eu não abriria mão da minha condição de professor. Eu continuo dando aula, faço questão de estar com os meus alunos, de estar no curso de graduação, de participar no curso de pós-graduação como orientador e de estar presente no curso de especialização o qual eu coordeno. Eu estou no mesmo Campus, na mesma casa, com duas funções compatíveis e que exigem dedicação.

JC: Com relação ao Crusp, será feita uma revisão no método de seleção dos alunos?
Waldyr Antônio Jorge: O método hoje é bom, e não só isso, ele é justo. Por que nós estamos atentendo uma comunidade de 1.500 usuários, não é pouco. Precisamos de mais? É obvio que precisamos de mais. Por isso que estamos construindo um bloco novo de moradias com 204 novos apartamentos para termos mais vagas. Vai atenuar a situação, essa é a conquista dioturna, é aumentar a nossa oferta e atender à nossa demanda.  Se eles me questionarem se isso basta; nós sabemos que não basta. Aliás, em qualquer lugar do mundo, em qualquer país do mundo, vai estar faltando alguma coisa como o sonho que todos nós desejamos; que é a plena felicidade, boas condiçoes de vida. Não quer dizer que por conta disso nós vamos parar, pelo contrário, vamos avançar.

O processo é criterioso. Eu entendo porque eu já fui jovem já participei do movimento estudantil, eu conheço as ansiedades, aliás, juventude não é uma questão de idade, até o idoso pode ter o pensamento jovem, é o espírito que tem que se manter jovem. Eu acho que tem determinadas coisas que deve se estabelecer alguns limites. Eu acredito que não tinham se esgotado, não se esgotaram, todos os canais para que pudessem ser agregados valores novos, ideias novas, no processo de seleção.

Houve um ato de invasão que eu não vejo uma justificativa. Nós estamos abrindo agora o diálogo. O diálogo franco e respeitoso à verdade não ofende. Eu não vou desrespeitar e nem quero ser desrepeitado, e digo pela instituição, a Coseas. Então a questão deles terem invadido um bem próprio da universidade, que é de todos nós, que as vezes eles alegam ser do público, mas o publico quem são? Somos nós. Mas é necessario ter uma ordem, uma ordem instituida, legal. Nós temos que pautar pela legalidade e está sendo um ato extremo que está prejudicando os próprios usuários, tanto que existem movimentos contra a ocupação. Os próprios usuários, na sua grande maioria, não concordam. Os ocupantes convocam assembleia as 11 e meia da noite e vão até cinco horas da manhã. A democracia é a única forma de regime, que não é a melhor, mas é a que nós temos. A democracia é conviver com os contrários.

Na minha visão houve uma certa truculência, um desnecessário constrangimento. As pessoas tem que saber discutir as ideias. A mesa está aberta para as ideias, o dialogo está aberto e tudo aquilo que puder agregar, que seja justo, honesto, correto, legal e com bons propósitos, por que não agregar? É lógico que não é uma mudança, como eu disse, de um jetski, de 180 graus, mas nós vamos levar aos órgaos competentes, superiores, às pessoas envolvidas, à administracao central e adequar. O processo que nós temos de seleção não foi um critério pré estabelecido unilateralmente, houve participação dos alunos, eles opiniram e eu diria que muita das informações deles foram agregadas. Quais critérios? Distância, salário da familia, vários riscos, condução que toma, renda per capita e não da familia, todos valores agregados para que houvesse um processo de seleção mais perto do ideal. Mas nem sempre ele se fecha totalmente, sempre tem algumas coisas a mais e a sistemática do trabalho mostra que pode ser melhorado, alterado, modificado, retificado ou ratificado. Agora, isso como se faz? Tomando de assalto um setor da universidade? Vamos abrir o diálogo, qual o problema?

JC: Há alguma intenção em rever irregularidades relativas à moradia?
Waldyr Antônio Jorge: Isso é um problema sério porque passa primeiro pela transparência da universidade, segundo passa pela nossa comunidade o que envolve alunos, funcionários, docentes e até os usuários. Nós não podemos permitir que aqui seja um setor descontrolado, eu estou falando descontrolado de uma forma elegante e educada. Se o Crusp foi feito para os alunos de graduaçào e pós-graduação, não tem como aceitar a truculência  de alguém estranho à comunidade usar um próprio que não lhe é devido, como se nada estivesse acontecendo. Tem pessoas que foram jubiladas e nós temos que identificá-las, até para o bem dos próprios moradores regulares, que são a grande maioria. São pessoas idôneas, esforçadas, trabalhadoras, dedicadas, bons ideais, que podem ter posições políticas contrarias a qualquer um dentro da universidade, isso que faz a beleza da democracia. Agora, não pode uma pequena minoria, avocar-se a si dona do saber ,da verdade, do direito e invadir a titulo de dizer que precisamos de mais moradias. É obvio que nós precisamos. E o pior: expor num varal, documentos legais, pessoais das pessoas que estão vivendo dentro do Crusp, documentos e informações extremamente sigilosas, o meu direito termina quando eu avanço no direito dos outros. Nós não vamos, absolutamente, utilizar o estado policialesco, não existe isso, nós somos visceralmente da USP, do lado da legalidade, da transparência e da democracia, todo mundo tem o direito de se manifestar, de expor ideias e tem obrigação e o direito de ser avaliado pelos outros. Já tiveram episódios passados no Crusp que não podem se repetir.

JC: Como estão as negociações?
Waldyr Antônio Jorge: Não existe nenhuma negociação direta. Junto com o vice-reitor nós vamos abrir um canal de diálogo. A Coseas tem que resolver esse problema. Nós vamos procurar uma solução harmônica, respeitável e respeitosa, visando o bem maior que é a universidade, que somos todos nós, mesmo que transitoriamente. Nós queremos o diálogo. Apesar de já haver a reintegração de posse, esta será a nossa última medida. Nós não queremos manifestação truculenta, embora esta invasão o seja, nós queremos maturidade. Temos que virar a página, trabalhar, olhar pra fente, quem ara nao olha para trás.

JC: A antiga coordenadora permaneceu 12 anos no cargo; o senhor acha que uma renovação é necessária?
Waldyr Antônio Jorge: Na minha visão todos os cargos têm que ser transitórios, com prazos e de preferência que as pessoas que forem substituídas que não sejam do mesmo metier. Quando eu estava na Alemanha, o meu professor se aposentou e nenhum dos seus assistentes puderam concorrer para subsititui-lo, tinham que vir de fora. Acho que o Brasil poderia também adotar essa medida, é uma maneira de oxigenar o sistema, uma obrigação de crescimento.