Bônus para docentes cria polêmica

Projeto prevê prêmio por mérito para professores de graduação de acordo com avaliação de alunos

Projeto recém-aprovado pelo Conselho Universitário prevê bônus para professores de graduação que se destacarem em suas funções. O documento, segundo a pró-reitora de graduação Prof.ª Telma Zorn está de acordo com os pilares da atual gestão Rodas, e visa aumentar a qualidade da graduação. O texto ainda prevê ações voltadas para a infraestrutura, como a criação de laboratórios e bibliotecas.

Os critérios utilizados para bonificar os docentes, bem como a modalidade do prêmio, ainda não foram discutidos pelo Conselho de Graduação, mas, segundo Zorn, dependeriam da avaliação dos alunos. Outra possibilidade seria aplicar os mesmos moldes utilizados pela Pró-Reitoria de Pesquisa para premiar os professores que se destacam em suas atividades, como o financiamento de viagens para participar de congressos, além de quantias de até R$3 mil para investir em pesquisas.

Para instituir um programa de bonificação, explica a pró-reitora, seria necessário aprimorar o atual sistema de avaliação de docentes. Criado em 2008, o Sistema Integrado de Indicadores de Graduação ainda não tem grande aderência da comunidade universitária: no segundo semestre de 2009, a adesão não chegou a 30%. A Pró-Reitoria não descarta a possibilidade de diferenciar os prêmios de acordo com a unidade onde o professor atua ou o título (mestre, doutor, livre docente, professor titular) por ele conquistado: “um prêmio poderia estimular o jovem docente a se envolver com mais afinco no ensino desde os seus primeiros anos de atividade”.

“Produtivismo”

O presidente da Associação dos Docentes da USP (Adusp) Prof. João Zanetic critica a Pró-Reitoria. Segundo ele, o órgão é contra qualquer tipo de premiação pois ela quebra a isonomia entre os docentes: “é uma forma empresarial de tratar a educação; não resolve o problema e estimula o ‘produtivismo’”. Zorn discorda e diz que premiar por mérito é um procedimento comum na academia: “são notas mais altas para os melhores alunos; bolsas de estudos para os melhores docentes; financiamentos para os melhores projetos etc”.

Zanetic acrescenta que a Pró-Reitoria não consultou os docentes sobre a medida e que há problemas mais sérios a serem resolvidos: “o curso de Letras tem mais de cem alunos por turma, e é preciso dividi-la por falta de espaço. Há problemas mais sérios na graduação para se preocupar do que com penduricalhos”. A pró-reitora rebate, dizendo que o bônus não é a essência do seu projeto e que ele contempla a todos os aspectos apontados por Zanetic. Mesmo divergindo, ambos concordam que a USP necessita de um sistema de avaliação com a participação dos alunos, e que a pesquisa é mais valorizada que a graduação. “Para a Adusp, a USP é mais voltada para o ensino e a formação de recursos humanos”, afirma Zanetic. “Sendo a graduação a função primordial da Universidade, por que não nos empenhamos para definir critérios que valorizem essa atividade?”, pergunta Zorn.