Debate: A unificação dos vestibulares poderia favorecer os alunos?

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Unificação pode trazer melhorias ao vestibular – entrevista com Mateus Prado
Autonomia ajuda a manter a qualidade – entrevista com Telma Zorn


Unificação pode trazer melhorias ao vestibular

Mateus Prado, presidente do Instituto Henfil.

Jornal do Campus: Qual o benefício de unificar o vestibular?
Mateus Prado: Todo mundo estuda para uma única prova. Direito na USP, por exemplo, tem vagas na capital e em Ribeirão Preto e as vagas são todas de um mesmo curso. Já o curso de Fonoaudiologia tem vagas em três campi, mas não estão na mesma carreira. Por isso, a concorrência se alterna a cada ano entre as unidades. Com a unificação, todas as vagas seriam na mesma carreira. Mas será preciso padronizar o nome dos cursos.

JC: Como fica a autonomia de cada universidade para escolher seus alunos?
MP: A maioria das pessoas que passam em uma delas, passa na outra. O perfil de cada Universidade difere na contratação dos professores. A assembleia legislativa não pode decidir isso.

JC: Qual a maior deficiência dos vestibulares hoje?
MP: As escolas particulares de ensino médio se focam no aprender a aprender. Você pega oito matérias, faz duas vezes por bimestre, quatro bimestres durante três anos e tem cerca de 200 provas que medem a capacidade de aprendizado. Com dez provas você já mostra que aprendeu. A ONU valoriza quatro pontos: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a conviver. O aluno pode saber tudo de elétrica, mas não sabe  colocar um clip no carro quando dá pane.

JC: A unificação dos vestibulares visa a incluir o aluno. Isso é correto?
MP: Para ser inclusão, precisaria que o vestibular deixasse de ser conteudista e avaliasse as competências dos alunos. Assim, os alunos de escolas públicas estariam mais equiparados com os de particulares. Os isentos são os que mais faltam na prova; o aluno que paga falta menos. A taxa é mínima para o orçamento de órgãos como a Fuvest. O Estado mesmo poderia responsabilizar-se pela aplicação das provas e cobrar uma taxa muito mais baixa.

JC: Qual a vantagem?
MP: A vantagem é a criação de uma estratégia de prova para o vestibular. Cada um tem um formato, a Fuvest com alternativas e a Unicamp com dissertativas até o ano passado, por exemplo. Além disso, mais pessoas vão pode fazer. Cada vestibular consome tempo (tem gente que trabalha) e tem o desgaste psicológico. Sair de casa para fazer prova também pode ser um custo alto. Falta ter  prova em um monte de cidades.  Toda cidade com pelo menos dez mil habitantes deveria ter um posto de aplicação do vestibular.

JC: Por que as Universidades relutam em unificar os vestibulares?
MP: Porque isso ameça os mecanismos de poder dentro das universidades, como a Fuvest.

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Autonomia ajuda a manter a qualidade

Telma Zorn, pró-reitora da graduação.

Jornal do Campus: Qual é a sua opinião sobre a unificação dos vestibulares da USP, Unesp, Unicamp?
Telma Zorn: Acabou de ser decidido que haverá uma comissão formada pelas três universidades ao longo de 2010, para pensar a respeito de uma possível unificação dos vestibulares. Eu acredito que não vai haver razões suficientes para uma mudança, a não ser que surja algum fato novo.

JC: As discussões vão se estender por todo 2010. Mas, como fica o próximo vestibular?
TZ: O vestibular é decidido até maio e não haveria tempo hábil para mudanças neste ano.

JC: Um dos pilares do projeto de lei é garantir maior acesso à universidadade para estudante de baixa renda. O que acha dessa solução?
TZ: A questão da inclusão dos alunos que não podem pagar a taxa de inscrição não é uma justificativa para USP, uma vez que a Fuvest disponibiliza 65 mil isenções para alunos de renda baixa. Esse número de insenções não está sendo totalmente utilizado. Hoje cerca de 20 mil isenções são concedidas.

JC: As universidades estaduais têm carreiras distintas e hoje há alunos que optam por áreas diferentes em cada uma delas. Como ficaria o critério de seleção?
TZ: As universidades têm 200, quase 300 carreiras. Essa escolha ser feita por meio de um único vestibular não seria a solução mais adequada.

JC: Uma das maiores críticas à lei é que ela feriria a autonomia universitária prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação – Lei 9. 394 de 2006. A senhora concorda com isso?
TZ: Fere a autonomia das universidades escolherem o tipo de alunos. O aluno de cada uma delas é diferente. A USP foca em provas multidisciplinares, enquanto a Unicamp visa a Internacionalização. Já o perfil selecionado pela Unesp é mais abrangente, a diversidade de campi implica em uma maior amplitude na seleção.

JC: Por que essa diferença entre os vestibulares?
TZ: Cada uma dessas três universidades tem um perfil de atuação diferente. A Unicamp tem o mesmo número de estudante na graduação e na pós-graduação, enquanto a USP tem aproximadamente 56 mil graduandos e apenas 18 mil na pós, por exemplo. É normal que o vestibular também tenha um formato diferente.

JC: A proposta de lei circulou na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo sem avaliação prévia das universidades. O que isso pode causar para as universidades?
TZ: Uma lei dessa natureza pode não ser aplicável. Embora a idéia seja resolver uma questão específica sobre inserção dos alunos de baixa renda, a Universidade tem que ter autonomia para manter a qualidade.

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