Especial Enchentes: Políticas urbanas em áreas de risco

Segundo especialistas, a política de moradia deve ir além de remoções de famílias em áreas de risco. Raquel Rolnik, relatora da ONU e professora da FAU, diz que, no caso de morros e mananciais, não há alternativa senão a remoção. Mas em áreas irregulares que não são de risco, pode ser feita a urbanização, embora esses projetos ainda não pensem na inclusão da favela na cidade. Ela cita o Favela Bairro, que revitalizou a infraestrutura das favelas, mas não providenciou sua manutenção. Dessa forma, as favelas continuam sendo tratadas como tal, e não como bairros.

A grande questão da remoção é  para onde essas pessoas removidas irão. Ermínia Maricato, professora da FAU, afirma que as políticas urbanas, hoje, ainda não têm uma proposta concreta que responda a essa pergunta. Raquel atenta que a moradia é um direito do cidadão e “é muito mais que um teto”: ela engloba também o acesso ao trabalho, à cultura, à educação e à água, dentre outros elementos.

Ermínia ainda aponta para um fato que lança luz sobre um outro fator que limita a inserção de pessoas mais pobres na cidade. A cidade de São Paulo, como outras tantas cidades, possui uma grande número de prédios ociosos e terrenos vazios. Diante desse fato, por que não inserir pessoas desalojadas em tais espaços? Ermínia explica que não é interessante colocar pessoas de baixa renda em áreas de alta renda. E, para ela, não é necessariamente um desinteresse do governo. Há uma pressão enorme por parte dos setores econômicos, principalmente o setor imobiliário, que impede a reforma fundiária nas cidades. “O preço da terra expulsa… cada vez que um corretor imobiliário joga os preços pra cima – e joga –, ele contribui para criar áreas de risco” completa.