Unidades continuam sem vigilância

Funcionários terceirizados não recebem salário prometido e continuam em greve

A empresa Personal, que presta serviços terceirizados de vigilância em várias unidades da USP, deixou de pagar seus funcionários, que decidiram pela greve. Em janeiro, a USP teve que pressionar a empresa ameaçando suspender os pagamentos, o que juntamente com a ameaça de greve dos funcionários, levou a Personal a pagar os atrasados em duas parcelas. Mas com o não recebimento no mês seguinte, grande parte dos porteiros aderiu à greve.

A USP em reunião com o Sintusp e representantes dos porteiros se comprometeu a pagar os salários referentes a fevereiro diretamente aos trabalhadores, com exceção dos benefícios (alimentação e vale transporte). Entretanto, na última quinta-feira (11), os porteiros receberam um valor muito aquém do salário base, o que levou os que ainda trabalhavam a engrossar a greve.

As unidades atendidas pela Personal, entre as quais ECA, IP, CEPE e Odontologia, estão praticamente com todos os postos abandonados. No Departamento de Música, onde o quadro de vigilantes é na maior parte de terceirizados, os alunos enfrentam dificuldades no acesso aos instrumentos, que antes ficavam disponíveis até às 23h e agora só podem ser usados até às 17h, comprometendo estudos e ensaios. Mariana Rodrigues, aluna do terceiro ano, declara que “rotineiramente usava as salas de piano até muito tarde, única maneira de ensaiar para as competições de que participo representando a universidade, agora tenho que estudar precariamente com o teclado de um amigo”.

Têm sido recorrentes os problemas da universidade com empresas terceirizadas, o JC, em edições anteriores, já denunciou inúmeras vezes o descaso das terceirizadas com os direitos trabalhistas. Os funcionários da Personal são ditos “controladores de acesso”, quando na prática exercem a mesma função de um vigilante, e têm a mesma qualificação já que lhes é cobrado o curso de vigilância, mas o salário de R$570 é muito menos do que recebe um vigia celetista da USP cujo salário líquido ultrapassa R$1.000 fora os R$400 de vale alimentação.

Seu João do IP, que teve o nome incluído no SPC por não ter pago a prestação dos óculos, é um exemplo dos dramas pessoais que se multiplicam com os atrasos nos pagamentos. Alguns preferem continuar trabalhando, mesmo sem salário, na perspectiva de receber da Universidade ou de serem contratados pela empresa que deve substituir a atual.

Procurados para falar sobre o caso, os membros da reitoria e da Coordenadoria da Administração Geral da USP (Codage) nada declararam alegando terem recebido ordens de não se pronunciar sobre as questões relativas à Universidade diretamente, mas somente com a mediação da assessoria de imprensa. A assessoria da USP prestou esclarecimento sobre as negociações iniciais com a Personal, negou que os funcionários não tenham recebido em janeiro e disse ter pago integralmente o salário base relativo a fevereiro. Sobre a disputa com a Personal, disseram que o contrato é válido até o fim março e que a universidade já acionou o seu aparato jurídico contra a empresa. Na sexta-feira (12), foram abertas licitações para a contratação de novas empresas de vigilância para os campi de Piracicaba, São Paulo e Ribeirão Preto. Essas licitações não possuem as cláusulas previstas para que os funcionários da Personal fizessem parte do quadro funcional.

Departamento de música na ECA continua sem vigilância (foto: Crenilda Abreu)
Departamento de música na ECA continua sem vigilância (foto: Crenilda Abreu)