Fórum debate falhas do ensino na ECA

Iniciativa procura repensar projeto para a graduação; estudantes reclamam de foco excessivo no mercado de trabalho

Teve início em abril o Fórum da Graduação da Escola de Comunicações e Artes (ECA), ciclo de debates que busca atualizar a grade curricular dos diversos cursos da Escola. Mudanças nos cursos não são novidade na USP, mas esta é a primeira vez em mais de 15 anos que se discute a graduação como um todo, com o envolvimento de todos os cursos. Desde a posse no começo do ano, o novo diretor da ECA, Mauro Wilton, afirmava que 2010 seria o “ano da graduação na ECA”, mas só agora os alunos puderam perceber alguma ação nesse sentido.

Após os debates iniciais, agora a discussão se divide pelos departamentos e se prolonga até agosto. O Fórum não pretende alterar de imediato os cursos, apenas definir as necessidades dos graduandos, para futuramente pensar em mudanças concretas.

(ilustração: Carol Rodrigues) 

Falta de ação

Essa é uma das principais críticas à iniciativa: “é sensacional os alunos terem essa oportunidade de debater, mas me incomoda um pouco que é sempre uma discussão. Nunca se chega a mudanças reais”, critica Vitor Gouveia, aluno do quinto ano do curso de Turismo.

Uma das reclamações mais comuns entre os alunos – e alguns professores – é a excessiva atenção dada ao mercado de trabalho. O professor do departamento de Jornalismo, Dennis de Oliveira, concorda: “Não tem sentido uma universidade pública como a USP, que é mantida pela sociedade, ser submissa ao mercado. Não estou falando em ignorá-lo, mas ele também não pode ser o paradigma central para se pensar o tipo de pessoa que queremos formar”. O próprio diretor da ECA concorda, mas pondera que é necessário um equilíbrio entre os dois extremos: “a Universidade não pode ser uma ilha, mas também não deve ser dependente deste continente que é o mercado. No dia que ficarmos dependentes, deixamos de ser uma escola pública de qualidade. É um desafio”.

O outro lado

Se adequar ao mercado de trabalho foi justamente o motivo de mudanças este ano no curso de administração da FEA. Após entrevistas com empresas, a direção da faculdade percebeu que seus alunos tinham uma boa bagagem teórica, mas faltava um comportamento mais pró-ativo nos estágios. A solução foi reduzir as aulas expositivas e aumentar as práticas, como a resolução de casos. Os alunos aprovaram a iniciativa.

Uma causa comum de mudanças nos cursos de graduação é a adequação à legislação de órgãos externos à USP. É o caso do curso de pedagogia da Faculdade de Educação (FE), que teve de aumentar em 2009 sua carga horária para se ajustar às exigências do Conselho Nacional de Educação. O mesmo ocorre na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU – USP), quando o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia solicitou alterações para este ano no curso de arquitetura.

Mais participação

Na maioria das unidades visitadas pelo JC ocorreram mudanças, mas a crítica dos alunos é sempre sobre a falta de voz dos estudantes nesse tipo de decisão. Mas também existem cursos em que alunos parecem não cogitar qualquer tipo de mudança.

É o caso da Engenharia Elétrica, onde as reclamações mais frequentes são de matérias sem utilidade evidente para o curso, como cálculo avançado, e a dificuldade das provas. Segundo o vice-diretor do Centro Acadêmico da Elétrica, Felipe Pedroso, existem casos onde a média da turma fica abaixo de dois. “Até acho certa essa rigidez, já que uma falha de um engenheiro pode custar muitas vidas, além de muito prejuízo financeiro”, defende. Mas quando indagado sobre a participação dos alunos na construção da grade curricular do curso, Felipe admite: “confesso que nunca pensei por esse lado”.