Palavras demais

Nada contra os textos. Afinal, num jornal impresso o texto é o veículo por excelência da comunicação.

Mas há nas primeiras três edições deste semestre um excesso de palavras, sem que isso se traduza necessariamente em informação.

A mais recente, por exemplo, trazia 32 matérias. Mais da metade – 18 delas – era baseada em versões e opiniões e não em fatos.

Falta reportagem.

Com exceção de Esportes, as editorias priorizam a entrevista em detrimento das outras técnicas de apuração: observação, confrontação de versões com a realidade, obtenção de documentos e outras informações concretas, relato de fatos.

É aceitável e até desejável que isso aconteça nesta página de Opinião, e dá para entender que ocorra na editoria Em Pauta, cujo horizonte já é limitado na origem.

Mas é um fenômeno preocupante na seção Universidade. Um jornal que deseja servir à comunidade uspiana precisa dar mais destaque ao que realmente afeta a vida das pessoas. A dificuldade de registro profissional dos formados em obstetrícia ou a confusão causada pela mudança no trajeto dos ônibus merecem mais investimento e espaço do que um debate sobre ensino no qual nada foi decido.

A pequena nota sobre os ônibus, aliás, é simbólica desse estrabismo. Ela termina assim: “Até o fechamento dessa edição, a SPTrans não confirmou a mudança”. Como? Não é função do repórter subir nos ônibus e verificar se o trajeto mudou ou não? E não seria um excelente serviço publicar um mapa com os novos itinerários?

A equipe que faz este jornal precisa abraçar o desafio de fazer um veículo mais surpreendente, mais útil, mais relevante. Eles são o futuro desta profissão. Certamente têm capacidade para abandonar um jornalismo tradicional, acomodado e institucional e investir em criatividade, vitalidade, ambição e ousadia.

Um gol: Bonito e informativo, o diagrama “Obras no Cepeusp” usa as cores de forma inteligente.

Um frango: A reportagem “FFLCH é acusada de pirataria” se baseia em denúncia anônima. Não precisava. Ainda no primeiro parágrafo está escrito: “dos cinco locais citados pela carta, apenas um confirmou usar parcialmente softwares não licenciados”. Opa! A notícia está aqui! A pirataria foi comprovada, mas deixamos o lide escapar por baixo das pernas.

Ana Estela de Sousa Pinto, 45, é formada em agronomia e jornalismo pela USP. Trabalha na Folha de S.Paulo, onde é responsável por seleção e treinamento.