Sem vergonha de ser quinzenal

Às vezes tenho a impressão de que o Jornal do Campus pensa que é diário.

O que mais explica uma manchete como a da última edição (“Funcionários entram em greve por reajuste”)? Para quem pega o jornal em 24 de maio (dia em que escrevo este texto), que sentido faz saber que uma greve começou no dia 5? Nenhum.

Isso só é manchete em veículo de periodicidade mais frequente: diário ou em tempo real, como os on-line, o rádio e a TV.

Um jornal quinzenal não pode jogar papel e tinta fora com algo que depois de amanhã já estará velho, suplantado, inútil.

A greve era o assunto mais importante naquele momento? Então os desafios jornalísticos são dois: a) chamar o leitor para o site do jornal e manter ali uma cobertura quente e frequente (a versão on-line até atualizou o noticiário, mas de forma inconstante e com atraso), b) encontrar uma abordagem jornalística que produza informação relevante, inédita e perene sobre a greve.

Este jornal precisa ter mais clareza sobre sua identidade e seus objetivos. Que tipo de notícia casa bem com um veículo quinzenal? E o que só o JC pode dar a seus leitores?

Uma resposta excelente está na página de Cultura da última edição: interessante e útil reportagem sobre os acervos da USP (grifei a palavra de propósito, pois acho que reportagem é a chave do sucesso). Só faltaram fotos no lugar de ilustrações (bonitas, mas com pouca informação).

Outra resposta digna de elogios está numa nota no pé da página 4: o acompanhamento crítico e sistemático de um assunto relevante, como o da transferência dos livros da Faculdade de Direito. O Jornal do Campus não deixou o caso desaparecer. Manteve o assunto na pauta e mostrou que os prazos não foram cumpridos.

Ana Estela de Sousa Pinto, 45, é formada em agronomia e jornalismo pela USP. Trabalha na Folha de S.Paulo, onde é responsável por seleção e treinamento.