“Afropessimismo” deve ser revisto após a Copa

Copa do Mundo

Quando se fala em África, logo se pensa em algumas imagens que não condizem com a verdade daquele vasto continente. Segundo o professor Pio Penna, especialista em história das relações internacionais com ênfase em África, tais lembraças decorrem do foco na mídia em pautas negativas como doenças, guerra, fome e vida selvagem, por exemplo. Esse é o chamado “afropessimismo” e que, com a Copa do Mundo da África do Sul, tende a dar lugar a outro tipo de imaginário.

“A Copa vai valorizar aspectos da cultura e do desenvolvimento do país, mostrar o outro lado que normalmente não é visto”, ressalta. Não só isso; o intercâmbio social que se seguirá por esse mês de jogos ajudará pesadamente na mudança de visão por parte dos turistas, vendo que a África do Sul pôde realizar um evento dessa proporção.

Os ganhos com isso, segundo o professor, “não podem ser medidos no curto prazo, mas ajudam a tirar o estigma” de continente fracassado. “Para os africanos é um momento de orgulho extremo, é a sensação de estar no mundo, que geralmente não os quer”, completa.

No âmbito das relações internacionais, Pio Penna, crê numa possível mudança de concepção que poderia influenciar em futuros acordos comerciais. ” A imagem não é pouca coisa; nós vivemos de imagem; os países também”, explica. Contudo, no curto prazo, o maior ganho se dá internamente. O legado da infra-estrutura e dos nichos de mercado que se abrem serão reaproveitados por todo o país após a Copa do Mundo.”Sempre fica alguma coisa na área de infra-estrutura, uma base material, isso emprega pessoas, desperta novos talentos, profissionais que não estavam inseridos e que tem uma importância”, ressalta.

Consciência Social

Não menos crucial é o legado social e, em se tratando de África do Sul, a problemática se torna maior. A consciência social dos negros, ligada ao futebol, após um regime como o apartheid cria uma mecanismo de afirmação, de maior coesão nacioanal. Isso porque, de acordo com o professor “o futebol foi um esporte importante na época de transição”, pois possibilitou a rápida integração de brancos e negros nos times. Anteriormente, o futebol era praticado somente por negros.

A Copa do Mundo servirá como uma vitrine para a África do Sul mostrar que a despeito de todas as desconfianças, realizou um evento de alto nível. “Expor as conquistas do país”, para Pio Penna, será de todo importante para o ideário global sobre o velho continente.

Copa deve valorizar cultura da África do Sul aos olhos do mundo, diz pesquisador (foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Copa deve valorizar cultura da África do Sul aos olhos do mundo, diz pesquisador (foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Brasil em 2014

Segundo o professor, a imagem do brasileiro “simpático, cortez e flexível” nos é muito favorável. Nós, sendo o país mais admirado na arte do futebol e referência internacional no tema, podemos tirar proveito de tal situação.

A Copa do Mundo, em 2014, é a oportunidade para que se repensem “as políticas para a prática esportiva”. Isso tange um Ministério dos Esportes mais coeso e centrado. A sequência esportiva por que passará o Brasil, mostra, segundo o professor, “não só a representatividade que temos no futebol”, no caso da Copa, mas” a nossa escalada em expressividade no cenário internacional”, no caso dos Jogos Olímpicos de 2016.