Parede do CAP ganha cores com intervenção de alunos

Alunos resgatam quadros abandonados no ateliê, transformando-os em nova obra de arte na parede do departamento (Foto: Guilherme Minoti/Danilo Bezerra)
Alunos resgatam quadros abandonados no ateliê, transformando-os em nova obra de arte na parede do departamento (Foto: Guilherme Minoti/Danilo Bezerra)

Em uma sala do segundo andar do departamento de Artes Plásticas (CAP) da ECA, diversas telas se acumulavam nos cantos ou sobre os armários. Eram rascunhos e trabalhos em pintura produzidos por estudantes, que acabaram esquecidos entre tintas e cavaletes durante anos… Até o dia em que, para aliviar a falta de espaço no ateliê, os próprios alunos resolveram limpá-lo – e jogar os quadros no lixo.

No lixo? Quase. Apesar de terem sido colocados para fora do ateliê, não foram descartados: um grupo resolveu reaproveitá-los. “A gente pensou em pelo menos dar uma visibilidade a esses trabalhos pela última vez”, conta Danilo Bezerra, aluno do 3º ano. Como? Pendurando-os em uma parede do próprio departamento. Primeiro, foi feito um grande mosaico na grama para que se pudesse visualizar todo o conteúdo. Depois, com o apoio de outros alunos, eles foram pendurados na parede. O resultado foi um grande painel colorido, que para Danilo, é mais do que um exercício de curadoria colaborativa: “a exposição se tornou um outro trabalho”.

A decisão não se limitou às pinturas destinadas à caçamba de lixo. “É um trabalho coletivo, as pessoas foram agregando, incorporando, outros foram arrancando os quadros – teve a própria censura de trabalhos”, diz Danilo.

Segundo Gilbertto Prado, chefe do Departamento de Artes Plásticas, o único problema da intervenção (como ele próprio a chama) é sua duração. “Uma hora isso tem que terminar, para dar espaço a outros. A gente tem que aprender a trabalhar com coisas efêmeras – e mostras e exposição são efêmeras”. Fora isso, ele afirma que ela foi bem recebida por alunos, professores e funcionários. “O espaço de uma escola de artes é um espaço de experimentação e aprendizado, então acho extremamente válido”, diz.

Tom Ribeiro, aluno do 6º ano, acredita que a manifestação foi aceita devido à massa crítica e à vontade das pessoas. “Agora elas estão começando a perceber que o espaço é aqui, é nosso”, comenta. Ainda assim, Danilo pensa que pode haver críticas, mas de maneira velada: “ninguém se assume radicalmente contra certas ações artísticas, porque a própria história da arte é uma história de subversões”.

Espaço

Ter um espaço para a exposição dos trabalhos é considerado, por muitos, como uma necessidade. “É meio absurdo em uma escola de arte não ter trabalhos expostos”, considera Guilherme Gonçalves, aluno do 3º ano. Guilherme Minoti, do mesmo ano, concorda: “É importante a apresentação de trabalhos, saber o que seu amigo está produzindo. Isso contribui na formação do aluno”.

Para Gilbertto, a falta de uma galeria-laboratório também é um problema pedagógico. “O único departamento das artes que não tem lugar para experimentação é o CAP”.

A reinvindicação por uma galeria já foi levada à Diretoria da ECA e está em processo de negociação. Mas criar um local exclusivo para a exposição impedirá a intervenção de alunos no CAP? Gilbertto garante que não. “Mesmo que tivesse essa galeria, nada os impediria”.