A engenharia sobe aos palcos

Quem passa pelos corredores do Biênio, na Politécnica, pode nunca ter se dado conta de que, dentro de uma daquelas portas, há um grupo de teatro com mais de 55 anos de história e que teve papel fundamental no movimento estudantil dos anos 1970. É o Grupo de Teatro da Poli, comumente chamado de GTP.

O grupo já contou com o escritor Manuel Bandeira (que esteve envolvido com a criação do mesmo) e o ator Carlos Zara, que inclusive dirigiu o GTP enquanto aluno de engenharia na Universidade, na década de 50. Porém passou por um período de certa decadência, nas décadas de 80 e 90, após a abertura política do país, mas desde 2003 tem como coordenadora Bia Szvat, que revitalizou o GTP e o colocou novamente na lista de mais importantes do teatro universitário.

Hoje composto em sua maioria por alunos da USP, sendo a maior parte da Escola Politécnica, há no grupo alguns integrantes já formados e até crianças (o aluno mais novo, Pedro, tem 11 anos), o GTP é focado em pesquisa e nos conceitos do Teatro Contemporâneo, e Bia destaca, inclusive, que a estima pelo trabalho de pesquisa é ‘emprestada’ da Universidade, o que dificulta o surgimento de um grupo como o GTP fora do ambiente universitário.

Dentre os seis núcleos que formam o GTP, destaca-se o Verde, comprometido em formar atores profissionais, para dirigir peças do Grupo ou mesmo seguir carreira fora do teatro universitário. “Senti a necessidade de criar o núcleo Verde depois que percebi que os profissionais que chamava para trabalhar comigo não entendiam o espírito do grupo, a maneira com que trabalhávamos. E no Verde, os atores já vêm com essa carga de GTP, e tem uma ‘formação de formador’, conseguindo dar uma unidade aos demais núcleos”, explicou Bia.

Ainda em sua primeira formação, existente há apenas um ano, o núcleo verde tem somente seis membros – que recebem uma bolsa pelo trabalho de pesquisa. O convite da coordenadora (sem convite, não entra!) veio por demonstrarem paixão pela arte, muita dedicação e comprometimento. Apesar do frescor, o Verde já se apresentou em um festival em Praga (patrocinado pelo Ministério da Cultura) e no final de agosto irá ministrar uma Oficina de Teatro Universitário na Colômbia.

E o dinheiro que paga às contas do GTP, vem da onde?  O salário de Bia e dos demais diretores (que até fazem alguns trabalhos fora, mas priorizam o GTP), assim como a bolsa dos atores do Verde, são mantidos pelo Grêmio Politécnico, que também disponibiliza o espaço e arca com despesas extras e emergenciais (ou seja, quando o grupo não consegue patrocínio externo). Porém, há ainda vários itens na lista de desejos do GTP, como uma psicóloga, para fazer o acompanhamento dos atores, um espaço maior (a sala é minúscula, o que limita o público) e verba para cenário, um dos componentes mais caros das artes cênicas.

Os planos para o futuro incluem encontrar um patrocinador, aprimorar a comunicação e divulgação (não há assessoria de imprensa, é quase tudo no boca-a-boca), desenvolver o Núcleo Verde e consolidar o teatro universitário, que segundo Bia, ainda sofre certo preconceito nas rodinhas das artes. Para o segundo semestre, estão programados quatro espetáculos, um exercício cênico, além de duas montagens para o primeiro semestre de 2011.