A fila anda

Três vezes comecei este texto pensando em sugerir ao Jornal do Campus que extinga a função do ombudsman, por ser inútil. Não que o jornal não tenha melhorado a cada edição, e a da quinzena passada está aí para atestar. É seguramente mais noticiosa, diversificada, quente e interessante que as anteriores. Mas isso não tem qualquer relação com minhas colunas ou com meu trabalho.

É das regras do jogo que um ombudsman esteja obrigado a criticar e sugerir, mas não tenha a autoridade para fazer valer suas ideias. O Jornal do Campus melhorou porque jornalismo se aprende muito com a prática: a cada edição, mais experiência, o que leva a qualidade.

O que me deixou mesmo neste humor pessimista foi abrir pela manhã a caixa de e-mail à procura de mensagens dos leitores. Mais uma vez, estava vazia.

Fiquei pensando: para o Jornal do Campus, haver ou não ombudsman não faz diferença alguma. Não há leitores que precisem de intermediário. O jornal não desperta nem críticas nem demandas que justifiquem a intervenção de um ombudsman. Incomoda pouco, também: em quatro meses, só quatro pessoas se queixaram. Já estava colocando para tocar o refrão “Inútil, a gente somos inútil”, do Ultraje a Rigor, quando percebi que tinha uma última coisa a dizer: esta é uma época em que a imprensa precisa se reinventar.

O jornalismo precisa se mostrar relevante se quiser sobreviver. Precisa reconquistar seus leitores: alertá-los sobre o que pode prejudicá-los, salvar-lhes tempo e dinheiro, orientá-los, diverti-los.

Jornais – quaisquer jornais, impressos ou não – só sobreviverão se forem úteis. E um ombudsman – ainda que sem a ajuda dos leitores – pode servir para lembrá-los disso. Retiro, então, minha sugestão inicial.

Que a função permaneça. E que venha o próximo!

Muito sucesso aos meninos com quem tive a honra de fazer companhia neste semestre.

Ana Estela de Sousa Pinto, 45, é formada em agronomia e jornalismo pela USP. Trabalha na Folha de S.Paulo, onde é responsável por seleção e treinamento.