Cadeirante testa o campus

Julie testa as rampas na avenida Luciano Gualberto e no Instituto de Geociências (fotos: Karin Salomão)
Julie testa as rampas na avenida Luciano Gualberto e no Instituto de Geociências (fotos: Karin Salomão)
A USP oferece teatros, concertos, laboratórios, clínicas, bancos e restaurantes a todos. A todos que, no entanto, conseguem chegar até eles. Em uma cadeira de rodas, alguns alunos da USP têm que enfrentar um rali para chegar até locais de aula ou de lazer. Em todos os campi, há cerca de 180 pessoas com deficiência, não necessariamente física, descrita pelo questionário do sistema Júpiter Web. Há mais de uma década, porém, a universidade está trabalhando para adequar o espaço aos alunos com deficiência física e sensorial.

De elevador a rampas, muitas intervenções foram e estão sendo feitas na universidade. As áreas externas são de responsabilidade da Cocesp, enquanto a Coesf coordena, junto com as unidades, obras nas áreas internas dos prédios.

O último grupo de adequações externas, ainda em andamento, engloba obras na Geociências, FFLCH, Instituto de Psicologia, ECA e Cepeusp. Avaliadas em R$777.500,90, as obras compreendem rebaixamento de guia, rampa, rampa de concreto armado, guarda corpo, piso tátil, entre outras intervenções, abrangendo 5.053m². Estas serão finalizadas em setembro, de acordo com Itajacy Schimidt, arquiteta da divisão de Serviço técnico de Projetos Integrados, da Cocesp.

Em âmbito nacional, as vias e espaços públicos edifícios, meios de transporte e de comunicação só foram obrigados a serem acessíveis a pessoas portadoras de deficiência física pela a Lei nº10.098, de 19 de dezembro de 2000, regulamentada pelo decreto nº5.296, apenas em 2 de dezembro de 2004.

O levantamento das obras necessárias na USP, porém, começou antes. A professora Lígia Assumpção Amaral, do Instituto de Psicologia, já falecida, era deficiente física e idealizou o programa USP Legal. Ele foi criado em 1999 como um projeto para adequar a universidade; hoje não executa obras, mas procura pelos alunos para ouvir suas dificuldades. “A universidade deve tecer condições para o aluno ter suas necessidades atendidas”, diz Ana Barbosa, atual coordenadora do projeto.

A partir de 2001, os ideais de promover uma universidade acessível saíram do papel. Os trechos da Av. da Universidade, Av. Luciano Gualberto e Av. Prof. Mello de Moraes foram finalizados pela Cocesp em 2003, 2006 e 2009, respectivamente. As intervenções nas Av. Lineu Prestes, Rua do Matão e Rua do Lago ainda precisam que o projeto seja finalizado. Também foram reservadas 121 vagas de estacionamento em todas as unidades da USP.

Sim, foram feitas rampas. Mas a calçada não ajuda. Os blocos entortam, a via fica irregular. As rodas engancham no piso e o cadeirante pode cair. Julie Nakayama, A Guardiã da Paulista – cadeirante contratada pela Gerência da Avenida Paulista para inspecionar e denunciar irregularidades na avenida – foi convidada pelo JC para inspecionar algumas obras na USP. Ela verificou que não há rampa, por exemplo, entre o ponto de ônibus dos bancos e os próprios bancos, apesar de haver vagas reservadas no estacionamento. “A roda não passa por essas rampas, que são muito pequenas. O acesso aqui é complicado”. A rampa da Geociências, no entanto, “foi aprovada”, diz ela, rindo. “Mas a rampa em frente ao anfiteatro [Camargo Guarnieri] é inclinada demais, é difícil subir por ela”, conta.

Maria Cristina, que trabalha na Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica, conta que não era nada agradável depender de ônibus. Ela diz que se adaptou aos lugares: “virou tudo tão natural que, por mais que seja inacessível, sempre se dá aquele jeitinho”. Porém a “política, hoje, é que todos os espaços sejam adequados, e não o contrário”, diz Ana Barbosa.