O percurso de quem começa a escrever na USP

Projetos literários tentam suprir a falta de oportunidade enfrentada por jovens escritores

Trechos selecionados (arte: Alice Agnelli)
Aos doze anos de idade, Ellen Maria escreveu seu primeiro livro – uma novela interiorana de quase setenta páginas que se passava nos anos oitenta. Hoje, estudante do 5º ano de Letras na FFLCH, Ellen já soma cinco publicações e está em contato com duas editoras para publicar pela primeira vez um livro de poesias só seu. O começo, como para muitos outros autores iniciantes, foi difícil.

“Nas grandes editoras é preciso ter indicação, então eu entrava nos sites de editoras pequenas e procurava a opção ‘mande seu original’”, conta Ellen. Desse jeito, foram publicados quatro de seus cinco livros, todos em conjunto com outros autores. No ano passado, Ellen fez parte do grupo de estudantes de Letras da FFLCH que compôs o primeiro livro do projeto “Feito nas Letras”, do professor do Departamento de Linguística, Antonio Vicente Pietroforte, em parceria com outras pessoas e uma editora.

Antonio Pietroforte coordena o “Feito nas Letras” (foto: Túlio Bucchioni)
Antonio Pietroforte coordena o “Feito nas Letras” (foto: Túlio Bucchioni)
“Eu sentia falta de livros feitos nas Letras, que mostrassem como um aluno se manifesta; sua noção de literatura, de consciência metalingüística, de gênero e de estilo”, conta Pietroforte. Dessa ausência surgiu o projeto “Feito nas Letras”, que já publicou quatro livros de poesias e prepara-se para publicar quatro livros de quatro professores da Letras. Em suas aulas, o professor pede para os alunos que gostam de escrever enviarem suas produções, depois recebe indicações de alunos que escrevem, mas não cursam sua disciplina e, por fim, faz uma seleção do que será publicado.

Tatiana Okamoto, aluna da Letras do quinto ano, está entre os estudantes que vão publicar suas poesias no próximo livro do projeto. “Na minha opinião, faltam espaços como este; muitas pessoas entram no curso porque gostam de escrever, de compor, mas realmente é muito difícil”, diz. No ano passado, quando Tatiana fazia parte da gestão do centro acadêmico da Letras, surgiu a idéia, em parceria com seu amigo Claúdio Laureatti, de retomar um antigo projeto de sarau mensal na Letras.

Assim nasceu o Sarau da Cesta, cujo nome deve-se ao fato de acontecer em volta de uma cesta de livros e, anteriormente, de acontecer às sextas-feiras, ao invés de quinta-feira, como agora. “No ano passado tivemos uma sequência legal, conseguimos fazer os saraus todos os meses, menos em julho; este ano conseguimos fazer apenas dois”, diz Tatiana. Um dos saraus deste ano aconteceu no metrô Santa Cecília. O objetivo é levar a iniciativa para fora da USP.

Originais Reprovados

Como o próprio nome já diz, a revista “Originais Reprovados” foi lançada para publicar aquilo que, por algum motivo, foi rejeitado pelas editoras. O projeto, criado em 2005 pela empresa júnior dos alunos do curso de Editoração da ECA, se transformou em extensão universitária em 2009. A revista é publicada todos os anos com textos escritos exclusivamente por alunos da USP.

Tornar-se extensão possibilitou que a revista fosse custeada pela USP e pudesse ser distribuída gratuitamente. “Pretendemos distribuir a OR em escolas públicas, bibliotecas e centros culturais, promover algumas atividades, como rodas de leitura com os autores, visando promover a leitura e a escrita”, diz Nathália Dimambro, coordenadora da revista.

Felipe Abreu, estudante de audiovisual e fotógrafo, teve seu conto inspirado na vida de Robert Kapa, “O Fotógrafo”, publicado na edição de 2008 da revista. Sobre a diferença entre contar histórias em formatos variados, ele acredita que “a fotografia [é a forma] mais rígida, por esperar sempre um respaldo da realidade; o cinema mistura os dois e aparece como a forma mais complexa de se emocionar alguém”. A literatura continua sendo, no entanto, o formato mais libertador de todos. “O seu desejo comanda a história”, diz Felipe.

Futuro

Ellen espera agora o resultado de um concurso literário carioca no qual uma de suas poesias concorre e aguarda a resposta das editoras sobre a possibilidade de publicar seu livro “Nádegas n’água”, que tem como uma de suas curiosidades poemas curtos que podem ser enviados via celular ou Twitter. O professor Pietroforte sinaliza a possibilidade de publicar um livro com produções dos funcionários das Letras. “O contato é muito forte com as letras; todos vivemos nesse mundo”, afirma.