Aqui, manifesto não tem força

Dentro do campus, alunos incorporam outras culturas do Brasil

As adesões ao Manifesto São Paulo para os Paulistas vêm, estranhamente, de universitários. De acordo com declarações de William Navarro, representante do movimento “São Paulo para Paulistas”, em entrevista ao portal Terra Magazine, as assinaturas são principalmente de pessoas com idades entre 18 e 25 anos – o que poderia refletir um aumento do preconceito entre esse grupo jovem. Porém não é isso o que ocorre, principalmente entre os estudantes da USP.

Dilson de Brito Franco Neto, que cursa o segundo ano de Audiovisual e veio de Aracaju (SE), conta que passou por uma situação desagradável. Em um banheiro da ECA, deparou-se com os escritos “Morte aos nordestinos e escravidão aos negros”. “Claro que havia outras frases na parede que repudiavam essa, mas ainda assim é preocupante que alguém pense de tal forma”, diz.

Dilson, sergipano, assusta-se com preconceito (foto: Arquivo Pessoal)
Dilson, sergipano, assusta-se com preconceito (foto: Arquivo Pessoal)

Apesar de ocorridos como este, expressões de intolerância aos nordestinos são raras dentro do campus. Para Guilherme de Oliveira Mota, doutorando em Ciências da Computação, nascido em Fortaleza (CE), os paulistanos se mostraram bem receptivos. “Acho difícil que esse tipo de coisa venha a acontecer na USP, pois é um ambiente repleto de pessoas de todos os lugares do mundo”. Também de Fortaleza, Enlai Cheng, aluno do terceiro ano de Engenharia da Computação, diz que a sua origem se tornou mais assunto de conversas do que de discriminação. “Em geral acontece um certo reconhecimento, muitas pessoas se interessam em saber o porque eu vim, porque me afastar da família e de onde nasci para um lugar tão diferente”.

Influência na USP

Sobre a possibilidade de o Manifesto ganhar força na USP, os estudantes se mostram tranqüilos. “Penso que, na Universidade, as pessoas costumam ser tão diferentes que não importa origem, cor ou orientação sexual, por exemplo. Estamos todos no mesmo barco, com o mesmo destino”, afirma Dilson.

Guilherme também não crê que o manifesto aumente as reações contra não paulistas. “Esse manifesto vem de uma minoria de jovens, provavelmente assustados com a concorrência que sofrem de pessoas de outros lugares na hora de conseguir um emprego, uma vaga na pós-graduação etc.”

Repercussão nos CAs

Outra polêmica em relação ao manifesto veio de outro comentário feito na entrevista concedida por William Navarro. De acordo com ele, o movimento conta com o apoio de um presidente de um Centro Acadêmico (CA) da USP.

Ricardo Guimarães Vieira, diretor de Comunicação do Centro Acadêmico Visconde de Cairu (CAVC), da FEA, diz que não vê a possibilidade de os CAs se unirem a esse movimento. “Por mais que os CAs discordem acintosamente sobre diversos assuntos, os valores da democracia, da tolerância e da diversidade são comuns a todos nós. Sequer acredito que os alunos que este CA supostamente representa estejam de acordo com o movimento.”