Capivaras do afluente do Rio Pinheiros sofrem, mas não podem ser removidas

Capivaras na área do córrego próxima à EEFE e exemplar com ferimentos causados por detritos (fotos: Marcela Gonsalves)
Capivaras na área do córrego próxima à EEFE e exemplar com ferimentos causados por detritos (fotos: Marcela Gonsalves)
O córrego Pirajussara é conhecido pelo seu mau cheiro por aqueles que frequentam o Campus Butantã da USP. Apesar da aparente insalubridade, há um grupo de capivaras que vive às suas margens, próximo ao portão principal da Universidade. Algumas apresentam ferimentos na pele, possivelmente por causa de detritos que enroscam em seu corpo quando estão na água e passam a apertá-las conforme crescem. Elas nadam pelo córrego até chegarem a áreas pavimentadas ou com acúmulo de terra, no trecho próximo à Escola de Educação Física e Esporte (EEFE), onde podem ser avistadas pela manhã.

De acordo com um funcionário da Guarda Universitária, que observa e acompanha as capivaras há 7 anos, uma delas quase não sai da água por causa da lesão na pele. Sempre que passa por ali, ele recolhe plantas para alimentá-las. O guarda relata que já presenciou diversas tentativas de agressão, como meninos atirando pedras e um homem que se aproximou dos animais com uma lança improvisada em um cabo de vassoura. Preocupado, chegou a ligar para o Greenpeace e há 3 meses entrou em contato com a professora da Faculdade de Veterinária Nivea Lopes de Souza para requisitar ajuda, mas até agora não obteve resposta. Procurada pelo Jornal do Campus, a professora não deu resposta até o fechamento desta edição.

Segundo Adriana Cruz, assessora de imprensa da reitoria, a Coordenadoria do Campus da Capital (Cocesp) mantém as capivaras no local, pois, de acordo com os órgãos ambientais, as calhas dos rios são o habitat desses animais nas zonas urbanas. Questionado sobre a situação, um funcionário do Ibama de São Paulo respondeu que o órgão só pode fazer qualquer tipo de intervenção caso os animais estejam em cativeiro. A professora Ana Maria Nusdeo, especialista em direito ambiental da São Francisco, não discorda da posição da universidade e comenta: “se quisessem removê-las para áreas de melhor qua-lidade ambiental, seria bom, mas não se trata de uma obrigação”.

Enrico Ortolani, vice-diretor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, declarou que a faculdade não chegou a ser procurada para avaliar a situação, mas deixou claro que “a manipulação desses animais requer muito cuidado e técnicas especiais”. Ele mencionou o trabalho realizado recentemente por outro professor da FMVZ, Marcelo Labruna, que realizou um levantamento das capivaras que habitam o rio Piracicaba após casos de febre maculosa na cidade de mesmo nome.

Errata
Diferente do publicado na edição impressa, os ferimentos nas capivaras são causados por detritos como plásticos e não por algas. As algas encontradas nesse tipo de ambiente são principalmente microscópicas.