Guarda é insuficiente para vigiar o campus

Ocorrências de diversos tipos de roubos, furtos e agressões mostram a ineficiência do sistema de segurança da Cidade Universitária

Na última quinta-feira, 16 de setembro, um Cross Fox foi roubado em frente ao Sweden, restaurante da FEA. O dono do carro, José Campos, aluno de Administração da faculdade, estacionou no local às 10h30. Quando voltou, por volta de 12h40, o carro havia sumido. Segundo ele, seguranças afirmaram que um Gol havia sido roubado na noite anterior e um Palio no começo da semana, ambos próximos à FEA. José foi à central da Guarda Universitária, fez o R.O. (espécie de B.O. da Guarda), mas nenhuma providência foi tomada.

Casos como esse são comuns na Cidade Universitária. Somente nas últimas três semanas, cinco delitos no campus foram apurados pelo JC. Além de roubos e furtos, as denúncias de tráfico, uso de drogas e agressões físicas contra ciclistas e estudantes têm preocupado a Coordenadoria do Campus da Capital (Cocesp).

A segurança preventiva dos campi da USP é feita pela Guarda Universitária. Segundo o diretor da Divisão de Operações e Vigilância (DOV) da Cocesp, Ronaldo Pena, ela conta com, aproximadamente, 110 homens não armados que se dividem no patrulhamento da Cidade Universitária em viaturas, motos, bicicletas e a pé. No entanto, a vigilância tem se mostrado insuficiente.

Em agosto, roubos e furtos no Campus Butantã foram registrados mesmo em locais de intenso movimento. No dia 13, a aluna de medicina Marcela Del Carlo teve pertences furtados do seu Fiat Idea estacionado próximo ao Instituto de Química às 20h25. Dois casacos, um livro e outros objetos foram levados. Outro carro parado logo atrás também foi arrombado.

Em 24 do mesmo mês, o aluno de pedagogia Rodrigo Shimizu teve seu notebook e mochila levados do porta-malas de seu Palio enquanto jantava no bandejão central. O estudante estacionou em frente ao MAC, cerca de 200m da Reitoria. A Guarda Universitária foi acionada para anotar a ocorrência. Rodrigo entrou em contato com a Cocesp para solicitar as imagens da câmera de segurança, mas ainda não obteve resposta. Os membros da Guarda no local disseram o mesmo que foi dito à Marcela: que zelam somente pelo patrimônio da USP, não pelos carros dos alunos.

Outro exemplo da falta de segurança é o caso do dia 25 de agosto, quando um homem foi encontrado morto próximo ao P3, às 6h50. O professor Marcelo de Campos Pereira, da Veterinária, avistou o corpo pendurado em uma árvore e acionou a Guarda Universitária e a Polícia Militar. Segundo o perito, a morte ocorreu na noite anterior. Apesar do local ser bastante visível e a Guarda possuir homens para o período noturno, ninguém tomou conhecimento do ocorrido antes do aviso.

O dia da Guarda

O Campus Butantã possui 4,7 milhões de m² que compõem quatro setores. Todos os dias, os guardas recebem uma escala de serviço que os divide em três turnos para o patrulhamento de toda a extensão do campus.

A Guarda dispõe de três diretorias operacionais, sistemas de comunicação e de monitoramento e um mapa de risco da Cidade Universitária, que não pode ser divulgado devido a seu caráter estratégico. “[A Guarda Universitária] é um dos melhores sistemas de segurança para um campus no Brasil”, diz Ronaldo Pena.

No entanto, um guarda que não quis se identificar revela que, em alguns dias, dos 110 guardas, menos de 10 homens realizam o patrulhamento na USP por turno, em que deveriam estar presentes cerca de 35 pessoas. Muitas vezes, não ocorre punição dos ausentes e os prejudicados são os usuários do campus. Além disso, muitos guardas não ficam em rondas, mas dentro de prédios como o da reitoria, o que diminui ainda mais o número de patrulheiros nas ruas.

Alternativas

A Polícia Militar também tem responsabilidade sobre a segurança da USP. “A PM, constitucionalmente, tem o dever de policiar o campus. Quando é necessário apoio da polícia para ocorrências em que a guarda não tem competência para atendê-la ou está além de nossos limites, nós os acionamos”, diz Pena. Porém, a presença de um contingente da PM no campus é uma medida polêmica e impopular. Muitos alunos e docentes veem nisso uma forma de repressão da liberdade de expressão e dos movimentos sociais.

Para reduzir as ocorrências, algumas unidades apelaram para a terceirização da segurança, principalmente para os estacionamentos. “Geralmente [a Guarda] é híbrida, composta de vigias da USP e vigilantes terceirizados. A guarda assessora quando acionada”, afirma o diretor da DOV. A segurança de cada unidade do campus é gerenciada pelo chefe executivo local e de acordo com a necessidade.

Segundo Ronaldo Pena, o último relatório da Central de Operações mostrou melhora nos índices gerais desde 2006. Porém, os usuários do campus não se sentem completamente seguros.

Gráfico: Delitos no campus