USP mantém tradição política

Candidatos ligados à Universidade se lançam em campanha para as eleições deste ano

Ao longo de sua história, a USP lançou muitos nomes importantes para a política brasileira. São vários os presidentes da República que passaram pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, antes mesmo da instituição se incorporar à Universidade de São Paulo, em 1934. Entre eles estão Prudente de Moraes, Rodrigues Alves e Washington Luís, além de Jânio Quadros, que se formou após a criação da Universidade. Fernando Henrique Cardoso também se formou na USP, em Sociologia, pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, atual FFLCH.

Atualmente, a candidata do PCO ao governo do estado de São Paulo, Anaí Caproni, cursa a Faculdade de Direito. Filiada ao mesmo partido, Natália Pimenta é aluna de Letras da FFLCH e é candidata ao cargo de deputada federal nas eleições deste ano. Segundo ela, o ambiente de discussão dos problemas da Universidade, da sociedade e de novas ideias influenciou a sua decisão de entrar para a política: “O fato de haver muitas correntes, um movimento estudantil bastante forte em comparação com as outras universidades, acaba estimulando você a ter uma participação mais ativa”, diz.

Natália Pimenta, aluna de letras e candidata a deputada pelo PCO (foto: Jornal Causa Operária)
Natália Pimenta, aluna de letras e candidata a deputada pelo PCO (foto: Jornal Causa Operária)

O professor da Escola de Engenharia de São Carlos, Antonio Ferraz, mais conhecido como Coca Ferraz, é candidato a vice-governador na chapa de Aloizio Mercadante (PT-SP). Segundo Coca, ele próprio reflete a insatisfação das pessoas ligadas à Universidade com a sociedade e com a economia brasileiras: “Acho que todo professor tem uma certa vontade de que as coisas acontecessem de maneira um pouco diferente. Talvez eu seja um retrato disso”. Em seus anos de estudante, no entanto, ele conta que participava ativamente: “Confesso a você que não fui um militante político”.

Para o candidato do PT, a proximidade com a USP pode trazer apoios importantes entre os alunos, funcionários e professores da Universidade: “Eu imagino que eles enxergam a candidatura com simpatia, sabendo que tem alguém do seu meio, do seu segmento”. Natália Pimenta, no entanto, acha que o vínculo com a Universidade não garante um maior número de votos: “Eleitoralmente, não diria, porque na eleição o que conta é o financiamento”. Mas acrescenta: “As pessoas olham diferente quando sabem que você é da USP”.

Natália afirma que percebe “bastante interesse entre os alunos, mesmo que isso não se manifeste de imediato, organizando-se politicamente, ou participando ativamente do movimento estudantil”. Como resultado dessa consciência, ela acredita que as greves são ”um desenvolvimento da consciência dos estudantes” e que isso é mais comum nas faculdades de humanas. Nas faculdades de exatas, segundo a estudante, “há um controle muito mais rígido das burocracias da Universidade e de alguns professores”.

Em um ponto, ambos os candidatos concordam: o ensino superior público deve estar disponível a todos. “A gente acha que o Governo deveria dar condição para que todos pudessem estudar. É um direito da população”, diz Natália. Porém, discordam em outro: “Ele (o ensino) deveria ser totalmente estatal e gratuito”, de acordo com ela. Coca Ferraz, no entanto, pretende “ampliar a possibilidade de pessoas poderem ter bolsas para estudarem em escolas privadas de boa qualidade”.