Arte na parede

Cartazes e grafites provocam discussão sobre expressão artística e espaço público na USP
(Grafites: ECA, FAU e Poli/Fotos: Raquel Torres)
(Grafites: ECA, FAU e Poli/Fotos: Raquel Torres)

A comunidade que frequenta a USP já está habituada às manifestações artísticas espalhadas pelo campus, seja por meio de grafites, cartazes ou intervenções plásticas no ambiente da universidade. No entanto, ainda há discordância a respeito dessas formas de expressão, já que a maioria dos casos envolve um conceito  contraditório: o espaço público.

O grupo formado pelos estudantes de artes plásticas Guilherme Boso, Helena Lima e Frederico Heer, juntamente com Luiza Rolla, aluna de artes cênicas, é responsável pela colagem de cartazes de xilogravura na ECA e na FAU. Segundo Guilherme, apesar de os cartazes não terem um conteúdo discursivo ou de protesto, a própria localização causa significação e estranhamento. Para ele, procura-se unir a estética da composição à dinâmica do espaço. “O valor da colagem era maior que o valor do discurso e o nosso objetivo era construir um espaço de forma plástica”, diz.

Isso está também presente nas ideias de Geraldo de Souza Dias, formado em arquitetura pela FAU e docente do departamento de artes plásticas. O professor, que acaba de participar do segundo “Fórum Permanente sobre Espaço Público”, propõe a intervenção dos alunos no ambiente da universidade. Segundo ele, trata-se de pensar a noção de campo, não só como local de reprodução da arte – como o papel ou a tela – mas também como campo social, relacionando representação e realidade. “São interferências concretas no campus que (…) quando são levadas para o espaço público, mesmo que seja o da universidade, que é um meio laboratório e não propriamente a cidade, levantam questões interessantes”, afirma o professor.

Essa apropriação do espaço, contudo, não é amplamente aceita. Frederico Heer, por exemplo, afirma que a Guarda Universitária não permite e reprime a colagem de cartazes em alguns locais da USP. De acordo com o pesquisador Alexandre Barbosa, do Núcleo de Antropologia Urbana da FFLCH, esse tipo de ação ocorre porque o limite entre arte e vandalismo ainda é muito tênue. “A rigor, qualquer intervenção não autorizada em uma edificação pública ou privada pode ser enquadrada como vandalismo”, afirma. Para ele, o problema origina-se dos limites do espaço público e das suas contradições: “Trata-se de uma local de negociação, de conflito, de acordos e de trocas. A aceitação e as diferenças de opinião têm a ver com essas negociações.”

Segundo Barbosa, tudo que desafia as classificações ou é encarado como fora do lugar tende a ser considerado sujeira, vandalismo. Algumas intervenções passam a ser aceitas a partir do momento em que são classificadas como arte. Mas para ele, as classificações são insuficientes e limitadoras, pois o problema central se encontra justamente na diversidade desse tipo de manifestação. “E aquelas que não têm uma dimensão estética tão palatável, tão aceitável? Como enquadrar?”, indaga o pesquisador, expondo o conflito ainda sem respostas que se dá pela presença da arte no espaço público.

Colagem na lateral do prédio central da ECA (foto: Júlia Tami Ishikawa)
Colagem na lateral do prédio central da ECA (foto: Júlia Tami Ishikawa)