Carta: observações sobre pesquisa eleitoral

de Sérgio Miranda

Colegas, escrevo para algumas considerações sobre o JC que acabei de receber e que me chamou atenção pelo especial sobre as eleições.

Achei surpreendente a insistência dos editores em alavancar o índice do candidato José Serra. Começando pelo título em primeira página “Marina e Serra empatam na USP”, colocado sobre um gráfico que mostra Marina com 4 pontos percentuais a mais que Serra e, este, 6 pontos percentuais a mais que Dilma. Dentro, no caderno especial a coisa se repete: “Marina e Serra são os mais votados na USP”, sobre o olho “segundo pesquisa em parceria com Datafolha, candidatos do PV e do PSDB empatariam tecnicamente em primeiro lugar”. Talvez por ato falho, o texto à página 6 do caderno especial começa assim: “Com 30% de intenções de voto Marina Silva (…) empata com José Serra…”. 30? Não era 31? Até aí tudo bem, mas vamos ler a pesquisa para ver se todo esse chamamento se justifica.

Fui tentar descobrir a margem de erro da pesquisa, que provavelmente justificaria esse empate técnico. Para minha surpresa, o texto diz: “A pesquisa (…) possui margem de erro de 3 pontos percentuais para mais ou para menos, levando os dois candidatos mais votados (Marina e Serra) a empate técnico”. Opa. Fui fazer contas. Pronto! O “empate técnico” está justificado. Só que se a margem de erro é de três pontos percentuais, então há também empate técnico entre o candidato Serra (27 pontos, ou pela margem de erro, entre 24 e 30) e a candidata Dilma (21 pontos, ou pela margem de erro, entre 18 e 24). O empate técnico alardeado pelo jornal entre Serra e Marina é o mesmo entre Serra e Dilma, considerando a margem de erro de 3 pontos percentuais.

Outra coisa que passa sem nenhum destaque, é que este “empate técnico”, mesmo que forçado, se dá pela preponderância do universo de alunos pesquisados. Claro que alunos são a maioria da comunidade uspiana, mas a matéria não explica porque foi consultado quase o mesmo número de funcionários (162) e professores (154), quando a Universidade tem quase três vezes mais servidores da primeira categoria – 15300 funcionários contra 5200 professores. Como funcionários votam Dilma (37%), Marina (28%) e Serra (14%), e os professores votam Serra (38%), Dilma (25%) e Marina (22%), a escolha de uma amostra proporcional a essas categorias mudaria o quadro final dos mais votados na USP.

Um abraço e bom trabalho.

Carta enviada por Sérgio Miranda. Fale com a redação.


Esclarecimento da Redação

Olá, sr. Sérgio Miranda.

Obrigado por nos enviar suas críticas. Primeiro gostaríamos de esclarecer que os gráficos estão incorretos e não o texto. Isso foi uma grave falha do jornal e já foi corrigida na versão online. Mandamos uma errata pelo Twitter e também a colocaremos na próxima edição do jornal. Marina teve 30% das intenções, como diz o texto. 31% ela obteve entre os estudantes, daí a confusão dos dados.

De fato a matéria não menciona que Dilma também empatou tecnicamente com Serra. Talvez devêssemos ter mencionado no corpo do texto, entretanto o destaque para o empate entre Marina e Serra foi dado visto que ambos estão na primeira posição e portanto esse empate representa os mais votados dentro da Universidade. O jornal não poderia dizer que Marina ganhou na USP, pois essa informação estaria tecnicamente incorreta, de acordo com o próprio instituto de pesquisa, consultado pelo jornal sobre esse assunto.

Quanto às amostras de funcionários e professores, elas não influenciam o resultado final dessa forma. Isso porque os dados são computados usando uma ponderação que considera o número de ouvidos em comparação com o total (de alunos, funcionários ou professores) que eles representam dentro do universo da pesquisa (toda a USP), ou seja, o fato de ter sido ouvido quase o mesmo número de professores e funcionários é corrigido estatisticamente. Isso porque se a mesma proporção de cada grupo fosse ouvida, ou teríamos de fazer um número muito grande de questionários com alunos ou então um número muito pequeno, não representativo, de entrevistas com professores. Gostaríamos apenas de lembrar que todos esses cálculos e ponderações foram feitos pelo Datafolha, de modo que a equipe do jornal não poderia informar exatamente as fórmulas e os cálculos usados na pesquisa. Para mais dúvidas estatísticas aconselhamos que o senhor entre em contato com o Instituto Datafolha.