CAs festeiros têm mais participação de alunos

Muitos dos Centros Acadêmicos da USP reclamam que eventos mais politizados não encontram grande adesão entre os estudantes

Os Centros Acadêmicos (CA) da USP já foram importante polo do movimento estudantil. No entanto, dos CAs e Grêmio atuais ouvidos pelo Jornal do Campus, os que afirmam ter maior esvaziamento são aqueles que tentam discutir questões políticas com alunos. Ao mesmo tempo, várias entidades estudantis se concentram em realizar apenas eventos de entretenimento ou educativos; questões mais polêmicas aparecem pontualmente.

(Ilustração: Daniel Spira)

“Na época do Jornal Parasita [que circulou entre alunos da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, com conteúdo homofóbico], a Assembleia teve mais de 300 pessoas”, diz Bianca Marassi, membro do Centro Acadêmico da FCF. Na ECA, isso também aconteceu na época da polêmica em torno de um cartaz de festa que foi considerado ofensivo e machista. Para decidir a adesão ou não à greve dos funcionários, as assembleias dos estudantes tiveram lotação recorde na maior parte das faculdades.

Nas Letras, a principal ação da gestão atual do Centro Acadêmico (CA) foi mobilizar os alunos para participarem do X Congresso dos Estudantes da USP. “É fundamental um grupo de pessoas eleitas para organizar os alunos”, diz Paula Penteado, da gestão Veredas. Além disso, o CA faz reuniões para discutir medidas autoritárias tomadas pela diretoria da faculdade, como a redução das cotas de xerox.

Na ECA, o CA realizou neste ano o Fórum da Graduação, para rediscutir a grade curricular de todos os cursos. Guilherme Xavier, membro da gestão Levante, avalia que a participação dos alunos foi baixa. “As pessoas dão pouco valor para o que é falado e para as iniciativas, pois acham que quando as mudanças forem sentidas já estarão formados”, diz.

O grêmio da Poli realiza todo ano a Semana de Arte da Poli (Sapo). Com 20 anos de existência, além de contar com atrações artísticas feitas pelos próprios alunos, a Sapo também faz intervenções no cotidiano. Neste ano, trouxeram uma orquestra para se apresentar num espaço por onde os alunos costumam passar na saída das aulas.

Uma novidade na Poli é o Opmin (Orçamento Participativo Minerva), que distribui uma verba de R$12 mil para projetos. Os vencedores são os mais votados numa eleição aberta a todos os alunos. Arthur Holzhacker, membro da gestão Polinova, diz que a Opmin foi inspirada numa ideia do CA da Faculdade de Direito.

Na FAU, a diretoria iniciou reformas sem consultar a opinião dos alunos. Por conta disso, em 2009 os alunos decidiram em assembleia remover os tapumes da obra como forma de protesto. O ato foi condenado pelo diretor Sylvio Sawaya e por parte dos alunos, que escreveram uma grande mensagem numa parede no interior da faculdade: “O GFAU não me representa”. Apesar disso, o evento levou à reformulação do Conselho Curador, para que alunos, funcionários e professores participassem no planejamento do espaço. “Foram feitas mais de 20 rodadas participativas por diferentes espaços da FAU. Primeiro, todos escreviam três problemas que observavam naquele espaço. Depois, lemos tudo em voz alta. Por fim, todos sugeriam potencialidades dos espaços”, explica Daniel Jacobino, membro da gestão 727.7.

Por outro lado, a mesma gestão reconhece sua omissão em promover a discussão política dentro da faculdade. “Este ano passamos por uma ressaca deste assunto, que era a atividade principal das gestões anteriores”, diz.

O lado político também não tem muito espaço no CA da Biologia. “Muitos alunos, na biologia, não se interessam por política. Até 2006, isso era muito forte no CA, e isso afastava os alunos”, diz Mayra Cato, membro do CA. Hoje, com 12 pessoas registradas na chapa da diretoria, o Centro se foca mais em atividades educativas. No início do mês de outubro, promoveram o evento “Bio na Rua”, em que levaram materiais biológicos para parques, visando ensinar  a quem estivesse passando. “Nosso objetivo, agora, é aproximar a biologia do cotidiano das pessoas”, diz ela. Na FCF, as reuniões normalmente contam com 5 pessoas e, na Biologia, reunem-se cerca de 20 pessoas, segundo alunas das faculdades.