Eleições e pesquisas divergem em resultados

O “voto útil”, a abstenção e as mudanças de opinião do eleitor são alguns fatores que explicam as diferenças nos votos apurados

Diferenças entre pesquisas de intenção de voto e os resultados da última eleição, ocorrida no dia 3 de outubro, chamaram a atenção da população a respeito das pesquisas eleitorais, da sua influência no processo de escolha dos candidatos e dos supostos erros cometidos pelos institutos de pesquisa.

As pesquisas para senador de São Paulo apontavam Netinho (PCdoB) como provável vencedor, juntamente com Marta Suplicy (PT). Mas foi Aloysio Nunes (PSDB), quarto colocado nas pesquisas, que venceu. Ricardo Young, que tinha 3% das intenções de voto, obteve 11,2% no dia da eleição, superando a margem de erro esperada. Na disputa pela presidência, o IBOPE, apesar de detectar a possibilidade do segundo turno, apresentou uma diferença fora da margem de erro no percentual obtido por Dilma, tanto na pesquisa da véspera como na da boca de urna.

Márcia Cavallari, CEO do IBOPE Inteligência, credita essa diferença a dois principais fatores: a maior abstenção e a complexidade da eleição, com muitos cargos. “Eu mesma, ao votar, testemunhei o caso de uma eleitora que, questionada pelo mesário, não acreditava que ainda deixara seu voto para presidente em aberto”, conta. “A maior probabilidade de erro entre eleitores menos escolarizados teria gerado maiores perdas de voto para Dilma do que para os concorrentes Serra e Marina”, afirma a diretora executiva.

A discrepância entre intenções pesquisadas e votos apurados não foi exclusiva desta última eleição. Nas eleições para governador do estado de São Paulo de 1998, Paulo Maluf estava em primeiro lugar nas pesquisas que sugeriam a possibilidade de segundo turno com Francisco Rossi. Ficariam de fora os candidatos Mário Covas e Marta Suplicy, que aparecia em quarto lugar, desconsiderando-se o empate técnico. A apuração dos votos trouxe um resultado diferente: ficaram de fora Rossi, em quarto lugar, e Marta, em terceiro, apenas meio ponto atrás de Mário Covas. O professor do departamento de Sociologia da FFLCH, Gustavo Venturi Júnior, acredita que essa diferença se dá pelo chamado “voto útil”. “Muitos eleitores da Marta, para evitar um segundo turno entre Maluf e Rossi, para eles as duas piores opções, votaram no Covas [eleito], que tinha mais chance a princípio de ultrapassar o Rossi”, explica.

Limitações técnicas

Segundo Edison Nunes, professor de Ciências Sociais da PUC-SP e membro do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas (NUPPs), da USP, há aspectos da pesquisa que podem causar diferenças nos resultados. Desde o constrangimento do eleitor ao declarar a sua intenção de voto, até uma possível interferência do pesquisador, por falta de treinamento – o que ele não acredita ser o caso dos grandes institutos – ou também por diferentes maneiras de calcular o resultado.

Por isso, o professor ressalta a importância em diferenciar votação de pesquisa, já que esta anuncia somente uma tendência, e não uma verdade absoluta. Para ele, deve ser levado em conta os processos de um método amostral, no qual somente parte da população é consultada. O professor compara com a pesquisa por amostra em domicílio feita pelo IBGE e aquela feita pelo Censo, dizendo que ambas também costumam divergir. Ele explica que isso ocorre justamente porque a primeira é amostral, enquanto na censitária todo universo é consultado. “A mesma coisa é a prévia eleitoral e a votação em si. Na votação em si, o universo inteiro diz; não tem margem de erro, ai é ou não é”, conclui.


Como o eleitor se comporta em relação às pesquisas eleitorais