Jornalismo, eleições e malandragem

Em uma guerra, a verdade é a primeira vítima. A frase, que virou história e é citada ad nauseam em faculdades de jornalismo, foi dita originalmente pelo senador norte-americano Hiram Johnson em 1917. Ela serve, como uma luva, para a guerra pelo voto – em que a imprensa, por vezes, faz papel de soldado. E já que isso é uma divagação: existe “verdade” ou é tudo questão de ponto de vista?

O Jornal do Campus trouxe uma série de matérias sobre a relação do poder com a imprensa, tomando como gancho as críticas que o presidente Luiz (ó, é com “z” e não “s”) Inácio Lula da Silva fez à cobertura dos veículos de comunicação. A intenção foi boa, mas o resultado duvidoso.

O título da matéria principal está editorializado, ou seja, grosso modo, está carregado de opinião. Editorializar o título é “malandragem jornalística”. Como a maioria das pessoas lê somente o título ou no máximo os primeiros parágrafos, o editor monta uma página bonitona e coerente através das chamadas. Mas o leitor só percebe isso se topar ler os textos do começo ao fim. E, neste caso, o título ia por um lado, e o texto, para outro.

A imprensa não é um partido político, mas pode se comportar como tal? A discussão não se resolve com um “não” de uma professora colocada no final de um texto, mas poderia gerar um belo debate, com argumentos de todos os lados, de Gramsci até hoje.

Por fim, houve dois eventos sobre liberdade de expressão: um citado pelo jornal, realizado na Faculdade de Direito no dia 22/9 e, outro, no Sindicato dos Jornalistas no dia 23/9. Ambos defendiam pontos de vista diferentes e contavam com presença da comunidade da USP. Mas sobre este último, nenhuma linha. Faltou gente para cobrir, foi?

Sugiro o livro “Liberdade de expressão vs. liberdade de imprensa – Direito à comunicação e democracia”, de Venício Lima, e o site do Observatório do Direito à Comunicação, da ONG Intervozes (www.direitoacomunicacao.org.br).

Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política. Cobriu conflitos armados e trabalhou em diversos veículos de comunicação, tratando de problemas sociais brasileiros. É atual coordenador da ONG Repórter BrasilFale com o ombudsman.