A GU deve atuar conjuntamente com a PM dentro do Campus?

A Polícia Militar vem realizando blitz periódicas na Cidade Universitária juntamente com a Guarda, alegando ação contra o crescente número de furtos de carros. O caso suscita polêmicas como a entrada da PM no Campus, associada à repressão pelos movimentos sociais, e a ineficiência da Guarda e dos serviços de segurança terceirizados da USP
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Não é necessária a presença da PM desde que haja uma Guarda Universitária bem treinada – entrevista com Neli Wada, diretora do Sintusp
O intuito é de resguardar os usuários da Cidade Universitária da ação de malfeitores – entrevista com Sidnei Martini, Coordenador do Campus da Capital


“Não é necessária a presença da PM desde que haja uma Guarda Universitária bem treinada”

Neli Wada é diretora do Sintusp

Jornal do Campus: A Guarda Universitária está trabalhando em conjunto com a Polícia Militar para promover blitz na portaria da Universidade. Qual a opinião do Sintusp a respeito dessa parceria?
Neli Wada: Nós do Sintusp entendemos que a Polícia Militar não deve estar dentro da Universidade de São Paulo. É uma questão de princípio, defendido desde a época da ditadura militar. Nós sabemos que existe repressão, criminalização dos movimentos dos trabalhadores e dos estudantes. Ao alegar que é por causa dos roubos, é preciso que se faça uma reflexão. Nós temos a Guarda Universitária, mas ela vem sendo desmantelada para que seja intensificada a terceirização da segurança. Se a USP gasta hoje milhões de reais com a segurança terceirizada, e ainda necessita da PM pra cuidar do patrimônio, é porque alguma coisa esta errada.

JC: Porque a segurança terceirizada não dá certo?
NW: Primeiro, existe uma grande rotatividade nos postos de trabalho. Os trabalhadores não são fixos, portanto eles não assumem nenhum compromisso com os postos. A segunda questão é que são trabalhadores mal pagos, enquanto a reitoria chega a pagar duas ou três vezes mais do que eles ganham para a empresa responsável. Enquanto isso a Guarda Universitária está sendo desmantelada, não se contrata gente, não há treinamento, existe o assedio moral. Isso tudo em função da segurança terceirizada. Ela deixa muito a desejar, e somos contra, pois se transfere dinheiro publico pra iniciativa privada, que não tem nenhum compromisso com a universidade. Outra questão é que esses trabalhadores não têm seus direitos trabalhistas cumpridos. Logo, trazer a PM pra dentro da Universidade, sob alegação de muitos roubos é esconder que está acontecendo algo de muito grave, que a administração não quer ver, não quer resolver. É acobertar alguém que está ganhando muito dinheiro dentro da Universidade. Em nenhuma universidade do mundo existe a policia militar dentro.

JC: A ação entre guarda e PM pode evoluir pra uma repressão?
NW: Com certeza. A PM, sempre que entrou na universidade, repreendeu e prendeu muitas pessoas inocentes.

JC: A respeito das câmeras de seguranças instaladas dentro do campus, a senhora se coloca em qual posição?
NW: Particularmente, sou contra, pois acho que as câmeras de segurança hoje instaladas, em qualquer empresa, e principalmente na USP, tiram a privacidade. Se a segurança instalou câmeras por todos os lados, por que quando um carro é roubado não se acha quem roubou? Porque as únicas câmeras que têm fita, que funcionam, são as câmeras da reitoria, em função do movimento sindical. As demais não rodam 24 horas por dia. Então temos que nos perguntar para quê elas existem. Ou elas só foram colocadas para alguém ganhar muito dinheiro com isso?
Portanto não é necessária a presença da PM desde que haja uma Guarda Universitária bem paga, bem treinada, com bastantes homens, e não uma segurança terceirizada corrupta e ineficiente como a que existe hoje.

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“O intuito é de resguardar os usuários da Cidade Universitária da ação de malfeitores”

Sidnei Martini é Coordenador do Campus da Capital

Jornal do Campus: Qual é a relação da PM com a Guarda Universitária? Em quais casos a polícia interfere/auxilia?
Sidnei Martini: A PM atua em caráter complementar à ação da GU, assim como os bombeiros. A PM atua nos casos onde a ação requer habilidade e autoridade além das da GU.

JC: Essa relação é essencial para a segurança no campus?
SM: Sim. Essa relação é essencial.

JC: A existência de blitz no campus Butantã é comandada pela PM? Qual o intuito dessas ações?
SM: As blitz são ações conjuntas da PM e da GU. O intuito é de resguardar os usuários da Cidade Universitária (alunos, funcionários, professores e visitantes) da ação de malfeitores.

JC: A ação conjunta é imprescindível nesse caso?
SM: Sim. Pois em casos de roubo de banco, roubo e furto de veículos, inspeção de documentos de veículos, somente a PM é que pode fazê-lo.

JC: Você acredita que as críticas à entrada da PM no campus são fundamentadas?
SM: Creio que são críticas originadas no desconhecimento de que essas ações existem em proteção aos usuários da Cidade Universitária, assim como existem fora do campus. Não fazê-las internamente seria relegar os usuários a um nível de proteção inferior ao que eles tem fora do campus.

JC: E quanto às alegações de que as manifestações estudantis sofrem repressão?
SM: Toda a atuação da GU visa a proteção da integridade física de seus usuários e da integridade patrimonial da USP, por serem bens públicos. A ação da GU é preventiva e de orientação.

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Nota da redação

Desde a edição passada a Cocesp instituiu uma censura prévia a qualquer entrevista envolvendo membros da coordenadoria. Não só os veículos de informação têm de pedir com antecedência para falar com qualquer pessoa, como têm de submeter suas perguntas e posteriores respostas à aprovação de um funcionário do gabinete do Reitor.

O JC solicitou uma entrevista com o diretor da divisão técnica de operações e vigilância da Cocesp, Ronaldo Pena. Mesmo com consentimento do próprio entrevistado, foi necessário esperar a manifestação de Sidnei Martini, o coordenador do campus da capital, que alegou que uma “equipe de análise” estava avaliando nossas seis questões.
O gabinete solicitou a Pena que enviasse as respostas por e-mail para uma nova avaliação. Ou seja, tanto as perguntas, como as respostas, precisaram passar por uma fiscalização prévia.

Por fim, as sucintas respostas foram enviadas como de autoria de Sidnei Martini. Depois de dias passados e repassados entre o gabinete e a assessoria de imprensa, não foi possível entrevistar o diretor de vigilância e, graças ao arrastar dos fatos – só recebemos autorizações no dia do fechamento do JC –, foi publicada a entrevista da forma duvidosa como foi enviada.

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