Alunos da EACH correm risco de ser indiciados por protesto

O diretor do Parque Ecológico do Tietê, Valter Rodrigues, estuda processar os estudantes da EACH que participaram dos protestos contra a desocupação das margens de um córrego próximo à estação USP Leste da CPTM, há poucos metros do campus, no último dia 4. A área, pertencente ao Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE), começou a ser ocupada no dia 27, por famílias vindas do bairro vizinho, Jardim Keralux, que não conseguiam pagar aluguel por suas moradias.

Segundo Valter, a desocupação corria tranquilamente, até a chegada dos estudantes: “Eles incitaram a violência, com gritos de ordem”. Contrários à maneira como a desocupação era realizada, os estudantes documentaram a ação em vídeos publicados no Youtube: “Expor a imagem das pessoas sem autorização é crime”, argumenta Valter. Para Leandro Ferreira, estudante de Gestão de Políticas Públicas, não houve incitação à violência: “a presença dos estudantes foi essencial para evitar que a polícia agisse com truculência”. Quanto à publicação dos vídeos, Leandro considera que o diretor do parque, que aparece participando da demolição das construções, estava presente como agente público em serviço, “e deve responder como servidor público”.

Os estudantes questionavam a participação da polícia militar e a ausência de agentes sociais que orientassem devidamente a população recém-desocupada.

Ocupação irregular

A área, parte de uma Unidade de Preservação Permanente (UPP), começou a ser ocupada por oito famílias. No dia 4, funcionários do DAEE, acompanhados pela PM, demoliram as casas que começavam a ser construídas. Segundo o diretor, a situação oferecia riscos para os próprios moradores, em razão das enchentes e da poluição do córrego. Além das oito famílias retiradas do local, resta um conjunto de casas, parte de uma ocupação mais antiga. De acordo com Valter, há uma ação movida pelo Ministério Público pedindo a desapropriação da área em questão.

Para José Carlos Vaz, professor de Gestão de Políticas Públicas da USP, tal ocorrência não é um caso isolado – muitas famílias vivem em áreas de risco ou de proteção ambiental. Segundo ele, São Paulo constituiu-se em um polo de atração, sem que fossem pensadas políticas de habitação adequadas: “Aos mais pobres sobra o endividamento e as habitações irregulares”. Para o professor, isso atende a lógica da especulação imobiliária, com áreas centrais subutilizadas e valorizadas.

Leandro explica que os estudantes não defendem a permanência da população à beira do córrego. Apenas cobram ações do poder público que definam o destino dessas famílias. Para repor os dois mil reais perdidos em material de construção, os alunos organizaram a rifa de um notebook.