Apesar de casos de mau preparo, Polícia Militar propõe treinamento constante

Casos de falta de preparo e infrações policiais são uma constante no noticiário, como o recente assassinato do estudante e atendente de restaurante, Júlio César Menezes Coelho, confundido com traficantes pela polícia carioca. O caso de Rafael Mascarenhas, filho da atriz Cissa Guimarães, morto por atropelamento num túnel do Rio de Janeiro fechado para manutenção, revelou que os policiais aceitaram suborno para liberar o veículo. Em São Paulo, o corpo do metalúrgico Edson Ednei Silva foi encontrado carbonizado. Ele havia desaparecido após uma blitz da PM.

O capitão Adriano Baptista, da Diretoria de Ensino e Cultura da Polícia Militar do Estado, responde às eventuais críticas ao preparo da polícia, afirmando que a corporação tem treinamento e busca o aprimoramento constante. Ele explica que, além da formação inicial, os policiais realizam estágios de atualização profissional de cinco dias, elaborado pelo gabinete de treinamento de cada comando. Entre outros temas, a atualização inclui táticas policiais básicas, direitos humanos, pronto socorrismo e relacionamento com a imprensa.

Além disso, todos os policiais têm acesso à vídeos de treinamento, “nos moldes da educação à distância”, instruções continuadas de comando (ICCs) mensais e preleções, instruções feitas por um supervisor que orienta o policial antes do trabalho.

Ele explica também que há dois caminhos para ingressar na PM. A Academia Militar do Barro Branco, de onde o policial sai com a patente de segundo tenente e o título de bacharel em ciências policiais, segurança e ordem pública. Ou a Escola Superior de Soldados, que, em um ciclo básico de oito meses de curso e quatro de especialização, forma a maior parte dos membros da polícia que saem de lá com a patente de soldado de primeira classe.

O livro Políticas Públicas de Segurança Pública no Estado de São Paulo, organizado pelo professor Luiz Antônio Francisco de Souza, da Unesp, procura explicar por que ainda há problemas no preparo das polícias no Brasil, mostrando como os governos civis tiveram dificuldades para assegurar o monopólio estatal da violência. Esta dificuldade pode ser observada na resistência à mudanças por parte de instituições governamentais responsáveis pela segurança pública, onde soluções violentas são uma constante. Segundo suas pesquisas, a polícia guarda uma herança militarista, e seu processo de tomada de decisões é feito de cima para baixo.

”A capacidade das polícias em responder às novas demandas está limitada à respostas padronizadas que envolvem à violência física, o envio de viaturas em situação de emergêcia, a compra de veículos e armas e o policiamento aleatório”, diz o estudo.