Capitu é pós-graduado, gay e militante

Muitos não o reconheceram no ato (foto: Denise Eloy)
Muitos não o reconheceram no ato (foto: Denise Eloy)

Dário diz que os livros são seu objetivo (foto: Yasmin Abdalla)
Dário diz que os livros são seu objetivo (foto: Yasmin Abdalla)

O endereço de e-mail de Capitu Assis era Flor da Moita. Parecia um trote. Um e-mail que foi criado para ser falso, mas que havia tomado dimensão pública. Doutorando em Literatura Brasileira pela FFLCH e especialista em Machado de Assis, ele explicava: “Flor da Moita é como Brás Cubas se referia àquela personagem Eugênia. Parece uma coisa poética, mas na verdade apenas diz que ela foi feita na moita”.

De calça preta e blusa roxa com a inscrição de ENUDS (uma sigla desconhecida, mas parte da vida de Capitu de Assis),  era convidado especial para um debate contra homofobia na FFLCH. Datas e estatísticas, tudo para mostrar que o combate à homofobia é real e deve ser intensificado.

Dário Neto, seu verdadeiro nome, estudou no Núcleo de Consciência Negra e passou no vestibular para Letras. Veio morar no Crusp, onde vive até hoje. O contato com outros estudantes, e principalmente seu contato no Núcleo, tornou-o mais militante. Hoje, ele já participou de quase todas as causas dos direitos humanos, lutou contra a exclusão racial, contra o machismo e por último (mas talvez não por fim), contra a homofobia.

Chegou de Guaianases, de uma família de 6 irmãos e uma mãe. Uma mulher “meiga e decidida”. Entender a realidade da mãe, oprimida pela sociedade e por seu pai, o ajudou a entender sua própria essência. Após entrar na faculdade, o menino de Guaianases, antigo fiel da Assembléia de Deus, começou um longo processo de três anos para conseguir se assumir como homossexual.

Com alguns amigos, montou o primeiro grupo universitário em defesa à diversidade sexual. O Grupo Primas ajudou a inspirar diversos grupos pelo Brasil e a montar o Encontro Nacional Universitário da Diversidade Sexual (ENUDS, o mesmo da camiseta). Em 2011, o evento já terá sua nona edição. Mostra com orgulho os crachás das edições que organizou.

Apaixonado pelos livros, Dário cultiva uma estante com obras dos mais variados autores. Não tem namorado e se sente bem com isso, “o objetivo da minha vida é isso aqui”, diz apontando para os livros. Em um ato contra homofobia em frente ao Restaurante Central, não se poupou e se vestiu de Drag queen. “Minha irmã é travesti e veio ajudar a me montar”. Não se diz confortável travestido, mas se fascinou por esse mundo. “Muitos me dizem que meu nome de Drag deveria ser Capitu Assis”.