Divergências prejudicam alunos do Cursinho da Poli

Discordâncias dentro do Cursinho da Poli, um projeto que oferece aulas a estudantes de baixa renda sem cobrar mensalidades, vêm prejudicando seus alunos. Gerido e mantido financeiramente pelo Grêmio Politécnico, o projeto seleciona candidatos por meio de critérios acadêmicos e socioeconômicos. Sob alegação de desmotivação e falta de identificação com os novos rumos do projeto, alguns professores deixaram as aulas, anunciaram desvinculação ou vêm faltando nos últimos meses. Além disso, alunos se queixam que os problemas trouxeram um clima desagradável. “Quando aconteciam as discussões, o clima ficava pesado, até para a aula fluir ficava bem ruim”, comenta a aluna Francielle Santos.

As divergências se originaram de diferenças na concepção de modelo e objetivos do projeto entre alguns professores e sua atual coordenação. Os primeiros não negam a importância de aprovação dos alunos nos vestibulares, mas propõem um foco maior na formação cultural e humana. “A aprovação, para gente, passava por criar um indivíduo crítico”, explica o ex-professor de história do Cursinho, Vinícius Ghizini. Os alinhados à posição da coordenação, por sua vez, defendem que o sucesso nos vestibulares deve ser a prioridade, considerando o enriquecimento cultural uma conseqüência inerente.

Os professores também alegam uma postura autoritária diante das diferenças de opinião por parte da coordenação, que implementou mudanças sem debater em reuniões abertas. Critica-se também que tais alterações contribuiriam para uma adequação do cursinho popular a um caráter mais comercial. São considerados exemplos desse processo a recente elevação no preço da inscrição, que era de 30 reais até ano passado e agora será de 60 reais, e o fim da seleção exclusiva de alunos oriundos da rede pública de ensino.

Marcelo Maki, coordenador e professor do Cursinho, justifica que o processo de verticalização na administração do cursinho objetiva diminuir sua desorganização e segue a mesma tendência do próprio Grêmio Politécnico. Acrescenta que muitas das críticas eram de interesses político, relacionadas às eleições para o Grêmio. Maki nega a hipótese de adequação do projeto para fins comerciais. O fim da exclusividade a alunos do ensino público, segundo ele, visa abrir oportunidade para outras pessoas que também enfrentam dificuldades financeiras. O aumento na taxa de inscrição é, de acordo com o coordenador, um recurso para aumentar a arrecadação e permitir o fornecimento do material didático gratuitamente a todos os estudantes, porque atualmente a aquisição do material é opcional e implica o pagamento de uma taxa 120 reais.

Sala de aula do Cursinho da Poli (foto: Andressa Pellanda)
Sala de aula do Cursinho da Poli (foto: Andressa Pellanda)