Fundação ligada à FEA cria curso pago de administração e gera dúvidas entre alunos

A Fundação Instituto de Administração (FIA), criada e gerenciada por professores da FEA, anunciou oficialmente por e-mail o lançamento de um curso pago de graduação em administração à comunidade feana, no dia 11 de novembro. A grade curricular deverá contar com disciplinas modernas de resoluções de caso e algumas ministradas em inglês e terá mensalidade de R$ 1.970,00.

O professor Adalberto Fischmann, chefe do Departamento de Administração da FEA e coordenador de projetos da FIA, explica que a criação do curso já vem sendo pensada por dois anos, quando surgiu a proposta no Conselho Nacional de Educaçãode acabar com as Instituições Especialmente Credenciadas, caso da FIA. A solução encontrada foi se tornar uma Instituição de Ensino Superior, passando a oferecer um curso de graduação. “Há mais de dois anos que nós estamos fazendo grandes esforços para ter uma posição legal diante do ministério de educação”, resume. Somente em julho, no entanto, foi finalizado o trâmite legal para abertura com a compra da mantença (uma espécie de licença para funcionamento) da Faculdade Mário de Andrade, que não oferecia mais o curso de administração.

O professor conta ainda que houve um comunicado formal ao diretor da FEA, em julho e também à Universidade. “Imediatamente nós fomos ao reitor da Universidade, João Grandino Rodas; ele aplaudiu, ficou muito satisfeito e até queria comprar ações pelo sistema de IPO (Initial Public Offering) da FIA”, relembra Fischmann.

Reunião com cerca de 40 pessoas no dia 10/11 (foto: Marina Ribeiro)
Reunião com cerca de 40 pessoas no dia 10/11 (foto: Marina Ribeiro)
Mobilização

A criação do curso gerou grande mobilização principalmente entre os alunos, que organizaram, através do Centro Acadêmico, reuniões gerais para discutir o assuntoe debates com membros da FIA. “A minha grande preocupação é com os impactos da criação do curso. O que nos protege de futuramente a FIA crescer, não precisar mais da USP e fechar a torneirinha para a faculdade?”, questiona Nelson Ishida, aluno do terceiro ano de Administração da FEA.

Em entrevista, o professor James Wright, diretor educacional da FIA, afirmou que nenhum professor da USP será contratado para o curso da Fundação: “Não está no regulamento, nós não vimos necessidade de colocar isso. É uma determinação da diretoria da FIA. Todos os professores da FEA foram notificados desse fato formalmente pela diretoria da FIA”. Mas ele assume que em caráter excepcional isso poderá acontecer.

“Eu vejo que está havendo uma mobilização, mas eu acho que a grande preocupação agora é com o nosso curso”, afirma Rodrigo Ferreira, presidente do Centro Acadêmico. Uma comissão foi criada por alunos de diversas entidades da FEA para discutir e entregar reivindicações à direção da Faculdade.

O papel da FIA

A fundação foi criada em 1980. “Na origem da fundação, um dos princípios e propósitos era nos ajudar a nós professores”, afirma Almir Ferreira de Sousa, diretor financeiro da FIA e também professor da FEA. Adalberto Fischmann afirma que a FIA doa diretamente ao Departamento de Administração aproximadamente um milhão de reais anualmente, e que a esse valor ainda seriam somados quantias à FEA e à universidade. “A FIA somos nós, a FEA somos nós. Somos professores da FEA, que fazemos da FIA um instrumento para melhorar as nossas condições de trabalho dentro da FEA”, resume o professor Almir.

Em contrapartida, João Zanetic, presidente da Adusp, considera que os benefícios oferecidos pelas fundações privadas sejam uma forma de “maquiar” o conflito de interesses existente na relação com a Universidade. Já Rodrigo acredita que a grande aceitação da fundação na FEA venha não só dos investimentos feitos, mas também do aumento da qualidade das aulas devido às experiências dos professores geradas nas consultorias da FIA.