Modelo comunitário é opção no policiamento

Apesar dos bons resultados, Polícias Pacificadoras podem ser apenas paliativas, alerta especialista do Observatório de Segurança
Governador Sérgio Cabral inaugura sede da UPP no Morro do Borel (foto: Divulgação/Shana Reis)
Governador Sérgio Cabral inaugura sede da UPP no Morro do Borel (Foto: Divulgação/Shana Reis)

Com uma campanha voltada para a segurança pública, o atual governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, foi reeleito em primeiro turno com mais de 66% dos votos nas últimas eleições. Sua principal proposta foi a ampliação de um programa alternativo de policiamento em comunidades com altos índices de criminalidade.

Implantada em dezembro de 2008, no Morro Santa Marta, a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) surgiu como um projeto do governo estadual para controlar as áreas que estavam sob a atuação de quadrilhas. Desde então, outras 11 unidades foram construídas em regiões como a Cidade de Deus e o Morro do Borel. Segundo a Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro, o objetivo das UPPs é promover a “aproximação entre a população e a polícia, aliada ao fortalecimento de políticas sociais nas comunidades”.

O projeto, entretanto, vem recebendo críticas devido à localização das unidades que até agora foram criadas, em geral, localizadas na região mais rica da cidade. Em entrevista ao site de notícias UOL, a socióloga e coordenadora do Núcleo de Pesquisas e Estudo de Violências da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Alba Zaluar, afirma que “estudos mostram que há outras regiões mais problemáticas e que precisam de mais segurança do que as favelas daquela região”.

Em São Paulo, a Polícia Militar tem, desde 1997, um projeto parecido. Segundo a Secretaria de Segurança de São Paulo, a Polícia Comunitária “se ocupa da prevenção do crime mais do que da reação a denúncias”. Ainda de acordo com o órgão, “o trabalho consiste na realização de rondas policiais constantes, contatos com lideranças de cada região, participação em reuniões comunitárias, coordenação de serviços de outras instituições”.

Observatório

Para Rodolfo Arruda, do “Observatório de Segurança”, um site que organiza e reúne informações e pesquisas relacionadas à questão da segurança pública no Brasil, as iniciativas como as UPPs são projetos que podem gerar experiências positivas nesse campo, pois representam um canal de diálogo entre os agentes do Estado e a população. Rodolfo explica, porém, que o mais importante nessas propostas é a forma como elas são implantadas. Desse modo, acredita que não é possível transformar a experiência em um pacote político que será disseminado e funcionará em todos os estados.

Ele afirma que, apesar dos bons exemplos, os problemas principais estão no controle e na relação política entre governadores e suas respectivas polícias estaduais. “Sem medidas que possam melhorar a crise institucional e as condições de atuação das policias estaduais (militar e civil, em regra), podemos imaginar que projetos como as UPPs tenham efeitos paliativos”, completa.