“Aumento da tarifa representa o aumento da exclusão”, diz MPL

No centro de São Paulo, manifestantes protestam contra o aumento da passagem (foto: Mariana Queen)
No centro de São Paulo, manifestantes protestam contra o aumento da passagem (foto: Mariana Queen)

O aumento da tarifa de ônibus de 2,70 para 3,00 – 11% – em São Paulo, desde o dia 5 de janeiro, gerou insatisfação entre vários setores da sociedade civil. Militantes do MPL (Movimento Passe Livre), que encabeça mobilizações contra o aumento da passagem pela cidade, desde o dia 7 de janeiro, dizem que “o aumento da tarifa representa o aumento da exclusão social”. Entre os jovens, o preço da passagem frente à qualidade de acesso é o principal alvo de crítica.

Custo da passagem

Com o reajuste, o gasto de um passageiro que faz duas viagens de ônibus por dia na cidade, desconsiderando estudantes, é de R$ 180 por mês – equivalente a 25% da maior faixa do salário mínimo do estado de São Paulo (R$ 620). O novo valor por viagem foi considerado muito alto pelos manifestantes, que reivindicam a redução imediata da passagem.

Para eles, o cenário é agravado porque a tarifa não corresponde à qualidade do serviço de transporte público oferecido. “O transporte deve ser um direito de todos para se ter acesso a todos os lugares”, afirma Lucas de Oliveira, professor de história formado pela USP e militante do MPL. Sobre o acesso ao campus Butantã da USP, Lucas aponta que a baixa quantidade de ônibus é um exemplo de como é precário o acesso a lugares da cidade relacionados à cultura, educação e lazer. O calouro da FFLCH–USP, Vinicius Viztto, 17 anos, exemplifica essa realidade. Todos os dias, ele demora cinco horas para ir e voltar de sua casa, em São Matheus, Zona Leste. “O governo precisa fazer investimentos corretos com relação ao transporte público”, diz.

Em resposta a esses problemas, o aumento de linhas de ônibus e frotas nas ruas é visto pela maioria da população como a solução mais simples para quadros como o de Vinícius. Mas, para Klara Kaiser, professora de Planejamento na FAU–USP, essa saída não considerada o limite de ocupação das vias urbanas. Klara, que trabalhou durante sete anos na SP Trans, alerta que, com relação ao aumento das passagens de ônibus e a questão de acesso, “não se pode ficar na superfície da indignação”.

Planejamento

Segundo ela, a possibilidade de melhoria no transporte público exige, para além de investimentos orçamentais relacionados aos ônibus, a priorização dos chamados transportes de massa, como os trens e metrôs. “A rede de ônibus da cidade é uma aberração porque faltam redes mais potentes para transportar os cidadãos”, afirma. Tácito da Silveira, mestre em Planejamento pela FAU e professor de Planejamento Urbano da Unip, afirma que a atual rede de metrô de São Paulo era a prevista para 1986 e opera acima da sua capacidade física. Quanto à rede de ônibus, ele acha que serve bem a toda cidade embora, embora critique a qualidade da frota e o período de intervalo entre os veículos.

Errata
O valor da maior faixa de salário mínimo em São Paulo é de R$ 620, e não R$640, como havia sido informado anteriormente. O texto já foi corrigido.