Professor demitido responsabiliza aluna por plágio

O professor da USP, Andreimar Martins Soares foi demitido sob a acusação de plágio. De acordo com declaração da reitoria ao Jornal do Campus, a demissão aconteceu pelo fato de o docente ser o principal responsável por um artigo, que tinha ao todo dez co-autores (entre eles, a ex-reitora Suely Vilela).

Andreimar, ex-professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, delega o erro a sua doutoranda Carolina Dalaqua Sant’Ana, que também teve o título cassado, após decisão da comissão de sindicância que investigou o caso.

“O erro cometido por ela foi lamentável. Como orientador, não consegui detectar o plágio, pois aconteceu em um momento de sobrecarga, de esgotamento físico e mental. Na época, tinha 11 orientações e mais de 45 colaborações, além das atividades normais de docência e pesquisa”, diz Andreimar, que está recorrendo da decisão da reitoria.

Carolina Dalaqua Sant’Ana não foi encontrada. O plágio foi denunciado por pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), que reivindicam a autoria de imagens de microscópio de trabalhos de 2003 e 2006 e foram coladas no estudo da USP, de 2008. Um dos focos do trabalho, coordenado por Andreimar e publicado na revista “Biochemical Pharmacology”, era descobrir se uma substância da jararaca pode ser usada para o tratamento do vírus da dengue.

No entanto, na legenda do artigo da UFRJ, as imagens se referem à espécie Leishmania amazonensis, enquanto no artigo da USP as mesmas fotos são atribuídas a Trypanosoma cruzi. Ou seja, além de não perceber que as imagens eram de outro trabalho, os autores não perceberam que se referiam a organismos diferentes ao revisar o artigo.

Sobrecarga

A partir deste caso e da declaração de Andreimar, surge a discussão: os pesquisadores estariam atarefados além da conta pelas publicações que devem produzir e orientar? Atualmente, a avaliação da CAPES dos programas de pós-graduação é muito quantitativa, pois se baseia no número de vezes que o cientista foi citado em outras pesquisas, de mestrandos e doutorandos que orientou e quantos artigos conseguiu publicar durante o ano.

Para a professora da FAU, Maria Lucia Refinetti, a situação não está fácil. “Há professores que fazem o mínimo que está no contrato, ou seja, apenas a carga horária de aulas. No entanto, quem se envolve com pesquisa e pós-graduação, costuma não ter tempo de se aprofundar nos estudos do projeto como deveria, pois cuidar da parte administrativa do projeto nos demanda muito esforço”, de acordo com a professora do Departamento de Projetos.

Outro exemplo de docente bastante envolvido com publicações e orientações, Gilberto de Andrade Martins, da FEA, diz levar isso com tranquilidade. “Procuro sempre envolver os alunos nas pesquisas. No entanto, para que não ocorram casos de plágio, devemos orientá-los fortemente sobre o que significa citar outros trabalhos. A geração da Internet tem cada vez menos consciência disso”, diz.