Graffiti no campus tem cores de arte marginal

Quem quer embelezar ou protestar com tinta na USP precisa ter autorização da coordenadoria do campus, ou corre o risco de ser preso

Artistas que pensam em fazer alguma obra pelos muros e paredes da universidade devem saber que não basta ter uma ideia na cabeça e uma lata de tinta na mão. É necessário um ofício da Coordenadoria do Campus, regra aplicada para qualquer intervenção nos espaços da USP.

“Já fui chamado pela Guarda Universitária enquanto estava graffitando. Mostrei que tinha um ofício e ficou tudo bem. Dentro das faculdades, nos centros acadêmicos, é mais fácil fazer sem autorização. Pelo menos nunca me abordaram”, conta Leonardo Borges, doutorando do Instituto de Biologia, que assina seus graffits como “Caqui”. O estudante tem razão. De acordo com Cristina Guarnieri, diretora de relações institucionais da Cocesp (Coordenadoria do Campus da Capital), em áreas internas as unidades e órgãos da universidade, a instância responsável pelas intervenções é a diretoria ou coordenadoria desses órgãos, que não costuma proibir o graffiti.

(foto: Manoela Meyer)

Repressão

O graffiti já tem espaço no calendário oficial da cidade de São Paulo. Essa manifestação urbana é celebrada no dia 27 de março, para lembrar a morte do artista Alex Vallauri, um dos primeiros graffiteiros do país. Mesmo assim, no último domingo (3), onze graffiteiros, entre eles artistas renomados, foram detidos pela Polícia Militar enquanto pintavam pilastras da estação Santana do metrô.

Na USP, a intolerância vale mais para pichadores e manifestantes. Em 2006, dois alunos da FAU foram sentenciados a três meses de prisão por crime de Lei Ambiental, depois de serem pegos pela Guarda Universitária pichando muros.

Além de punições, algumas pichações também sofrem censura. Ano passado, os tapumes do Bandejão Central tiveram frases de membros do Amorcrusp (Associação dos Moradores do Crusp) censuradas com tinta, após ordens da coordenadoria da Coseas (Coordenadoria de Assistência Social). “Nos casos das ações em áreas do campus, que é da alçada da Cocesp, as pessoas sempre são chamadas a conversar e analisamos caso a caso, considerando o impacto causado no patrimônio público. Obviamente, em casos de depredação do patrimônio seguiremos as regras e a legislação vigente”, diz Cristina.

Pichação

Uma máxima conhecida pelos graffiteiros é “graffiti é arte, pichação faz parte”. Entretanto, a lei não diferencia essas duas manifestações, punindo da mesma forma.

O que existe é uma diferenciação de valor cultural, algo tipicamente brasileiro, como explica Daniel Mittmann, mestrando da Unifesp, que pesquisa sobre o tema. Ele diz que tanto a pichação quanto o graffiti possuem a mesma origem, que é as ruas. Além de compartilharem do mesmo interesse: intervir na cidade e subverter as regras da sociedade. “Na Alemanha, quem pinta uma flor ou picha um muro é odiado pela população em geral da mesma forma, o que não ocorre no Brasil”, diz.