Grupo encena trágica festa da vida

As noites de terça e quarta-feira em frente ao Teatro Coletivo são uma boa chance para perder a inibição e engatar um papo com estranhos. Esperando a peça A Última Manga do Mundo começar, pessoas vão chegando e abordam quem está na frente do teatro: “você também veio pra festa do Charles?”. Lá dentro, a peça-festa tem direito a cerveja, conhaque e DJ. É impossível saber quem é ator, quem é espectador e não ser seduzido pelo clima de brincadeira.

Assim que a cena da festa vai tomando um rumo trágico, o clima ameno se esgota e ganha lugar uma experiência sensorial que não tem medo de encontrar os dramas individuais mais profundos, sem pudores. A montagem é do grupo “BANDO_O_TeXTo_PeRDeu_Se e o bacalhau também…”, formado no Departamento de Artes Cênicas da USP. Desse nome peculiar, a parte do texto perdido é facilmente reconhecida na peça, que é uma livre adaptação cênica para o conto “Morangos Mofados”, de Caio Fernando Abreu.

Os elementos mais importantes não estão em falas decoradas, que se repetem a cada encenação, mas nos significados dos gestos, expressões e da participação do público. O diretor Otávio Oscar conta como surgiu o nome: “quando estávamos ensaiando nossa primeira peça tínhamos como base um texto que os atores incrivelmente sempre perdiam. Por coincidência, em nenhuma das peças que encenamos até agora é o texto que comanda. O ‘bacalhau’ veio como referência a um dos membros fundadores, que é um ator que veio de Portugal fazer intercâmbio na USP”.

Bando dos ocupados

Juntos há um ano, o grupo está em sua terceira montagem. As outras duas foram encenadas no espaço do DCE. “A ocupação artística do DCE com as nossas duas primeiras montagens tinha a intenção de manter o espaço vivo, pulsante, chamar a atenção dos estudantes para aquele lugar que é de todos nós, um espaço com muitas possibilidades, potencializador de ações coletivas e aberto a um projeto de universidade e sociedade que se contrapõe ao projeto hegemônico”, diz Otávio.

Agora, pela primeira vez o “BANDO_” está diante da responsabilidade de ter que pagar aluguel, se apresentar duas vezes por semana, aprender a fazer coisas como assessoria de imprensa, divulgar a peça e encarar um público inesperado.

A preocupação em dar sentido aos diversos lugares das instalações do teatro é clara, com a utilização de banheiros e um chuveiro improvisado aos fundos do prédio como parte do espaço cênico. Como não há verba sobrando para os cenários, nem para figurinos luxuosos (pouco importantes nessa peça), isso acaba tirando o foco dos aspectos estruturais. “Quando precisamos de recursos, tiramos do próprio bolso, como fez uma das integrantes, que direcionou parte do dinheiro que havia guardado da bolsa de iniciação científica que tinha feito junto a outro projeto. Desde o final do ano passado, mandamos proposta para diversos editais de teatro, mas é muito difícil conseguir apoio para grupos que estão começando. Dizem que o segredo é a persistência…”, suspira o diretor.

Serviço

17/5 a 29/6 | ter. e qua., 21h | 60 min.
Entrada: R$20,00 (inteira), R$10,00 (meia)
Classificação: 18 anos
Teatro Coletivo | Rua da Consolação, 1623 – São Paulo