Pesos e medidas de uma manchete

Como colocar na balança reportagens e artigos de um jornal impresso e pesar a importância dos fatos, opiniões, secos e molhados?

Eis um drama permanente dos editores. Seja em uma publicação mais especializada, seja em um jornalão convencional do mercado. E é desse exercício de pesos e medidas, que sai a escala das manchetes. A tal da hierarquia. Qual é o principal fato ou questão discutida? O que mexe mais com a população ou a comunidade universitária?

Enfim, o que deve ser a manchete principal e o que vale registro na vitrine da primeira página?

A reportagem “Amorcrusp sofre crise institucional”, eleita como a principal da edição 379 do Jornal do Campus, é importante, sem dúvida, mas tem um assunto bem mais chamativo. Não no sentido reles de sensacionalista, mas sim de real preocupação de alunos, professores, funcionários e familiares: a repetida, porém não solucionada questão da segurança.

O assunto mereceu uma boa cobertura. Está no debate da pág. 2, na capa e no texto da pág. 4. O JC antecipa toda uma discussão – a presença da PM – que seria o tema da grande imprensa depois da morte do estudante Felipe Ramos de Paiva. Deveria, portanto, ser a principal manchete.

Sem tirar o mérito do bom relato sobre o tema AmorCrusp, a matéria tem várias falhas de revisão. A sigla da associação aparece grafada Amorcrusp e AmorCrusp, golpe, na linha fina da manchete de capa, virou “gilpe” e o texto sobre o tumulto da assembleia foi cortado antes do ponto final.

Sempre reclamo sobre o discurso declaratório, o excesso de aspas, mas neste caso do tumulto senti falta do “duelo verbal” entre as duas correntes de estudantes. O texto conta que houve. Deveria ter ilustrado com alguns momentos quentes da troca de acusações.

Homofobia – Ponto para o “Em Pauta” da edição, que trata da recente decisão do STF sobre a união civil de pessoas do mesmo sexo e traz o tema para dentro da universidade, revelando casos de preconceito contra gays mesmo em um ambiente acadêmico, sempre visto como mais civilizado, esclarecido e tolerante.

Saudações universitárias e até a próxima.

Xico Sá é atualmente colunista esportiva da Folha de S. Paulo, participa do programa Saia Justa, da GNT e Cartão Verde, da Cultura. Já colaborou com a revista Trip e foi apresentador da MTV. É autor de uma dezena de livros, dentre os quais Divina Comédia da Fama e Modos de Machos & Modinhas de Fêmea. Escreva para o ombudsman: ombudsman.jc[@]gmail.com