PM no campus é um mal necessário?

Os recentes episódios de violência nos campi da Universidade de São Paulo assustam alunos, funcionários e professores. Diante da situação, a possibilidade de convocar a Polícia Militar para reforçar a segurança dentro da USP volta a ser debatida. Se, de um lado, temos defensores ferrenhos da não intervenção da PM dentro do campus, do outro encontramos pessoas que se deixam levar pelo clima de pânico, ignorando que talvez a presença da polícia na Universidade possa significar a perda de sua autonomia.
Índice

Quais são as alternativas para garantir a segurança física de frequentadores do campus? – com colaboradores
PM para reforçar a segurança no campus vem na contramão das necessidades da sociedade – artigo de Amanda Voivodic, diretora do DCE


Quais são as alternativas para garantir a segurança física de frequentadores do campus?

com colaboradores

Os mais recentes episódios de violência nos campi da USP deixam alunos, funcionários e estudantes da Universidade aflitos. Na busca por um culpado, a Guarda Universitária acaba sofrendo diversos críticas.

Entretanto, esses ataques carecem de análises isentas de alguns uspianos. Para representantes e funcionários da GU e de empresas terceirizadas que prestam serviço a ela, a Guarda deve zelar apenas pelo patrimônio da Universidade, sem ter qualquer responsabilidade sobre a proteção das pessoas que transitam no campus.

Quais seriam então as alternativas para o policiamento ostensivo que garanta a segurança física dos transeuntes da USP? Quais são as alternativas para contornar esse problema?

Muitos acreditam que talvez a solução seja abrir os portões da USP para o patrulhamento da Polícia Militar. A opção é vista com maus olhos por parte da comunidade universitária, que acredita que a PM seria usada para reprimir manifestações, servindo aos interesses da reitoria, principalmente impedindo greves. Por outro lado, temos alunos revoltados com a onda de violência que acusam os que são contrários à presença da PM de colocar a ideologia acima do pragmatismo. Tal discussão se estende por anos a fio.

O fato é que, pelo menos aparentemente, a violência nos campi atinge níveis alarmantes, deixando alunos, funcionários e professores inseguros.

Segundo o professor de Legislação e Deontologia da ECA Eduardo Ariente, “durante muito tempo, enquanto não havia problemas mais graves de segurança no campus, a Guarda era considerada suficiente. Ocorre que esse problema se agravou, de modo a evidenciar a precariedade da estrutura da Guarda Universitária para dar segurança aos estudantes, funcionários e demais cidadãos que circulam pela Universidade”.

É bem verdade que o patrulhamento ostensivo do campus pela Polícia Militar pode ser interpretado como uma medida extrema, a ser tomada apenas quando todas as outras opções fossem esgotadas. Parte da comunidade USP acredita que o cenário atual justif icaria essa intervenção.

Convencido de que apenas uma minoria na Universidade se opõe à presença da Polícia Militar no campus, Bruno Queliconi, doutorando da Química, criou uma enquete online para descobrir quantos são a favor ou contra a medida. Essa enquete pode até levar a resultados inexatos, mas é uma tentativa de mapear a opinião na Universidade.

retornar ao índice


PM para reforçar a segurança no campus vem na contramão das necessidades da sociedade

Amanda Voivodic é diretora do DCE

É cada vez mais recorrente termos notícias sobre diversos tipos de violência na USP. O tema preocupa professores, funcionários e estudantes de diversos cursos e ultrapassa o campus Butantã, atingindo também os campi do interior. Assaltos, roubos, sequestros e casos de violência sexual são comumente associados à proximidade com bairros pobres, mas isso não é a causa estrutural dessas ocorrências, apenas a explicação mais fácil.

As medidas tomadas para solucionar o problema evidenciam o estreitamento do seu acesso. Catracas são colocadas nos institutos, o controle de entrada nos portões, já rigoroso, tem se intensificado: a USP perde cada vez mais o seu caráter público.

A falta de segurança é resultado do afastamento da sociedade de seu cotidiano. A população não vê o campus como um espaço de circulação, lazer, acesso ao conhecimento livre e troca de experiências.

Não podemos desconsiderar também outros fatores, como a falta de uma política de acesso à Universidade e pela a insuficiência de projetos de extensão que se preocupem com a juventude carente dos arredores da USP, que tem uma educação de baixíssima qualidade.

Diante disso, a Reitoria volta a discutir a portas fechadas o reforço da segurança pela Policia Militar, sem antes tomar medidas urgentes e que contribuiriam com a segurança dos espaços, como aumentar a iluminação do campus, a ocupação de áreas vazias e arborizadas e uma Guarda que cobririsse toda a sua extensão, mas que, acima de tudo, que fosse mais bem treinada.

A Guarda Universitária é alvo de críticas. Seja pela sua falta de preparo ou pelo caráter repressivo, ela não sabe lidar com a comunidade e atuar de forma preventiva. Atua hoje principalmente no sentido de segurar o patrimônio da universidade deixando brechas na segurança das pessoas que nela circulam.

É necessário que a guarda seja gerida pela USP e tenha um treinamento com ênfase em Direitos Humanos, principalmente nos casos de violência sexual onde há diversas acusações de descasos por parte da Guarda Universitária.

Assim, o debate da Policia Militar para reforçar a segurança dentro do campus vem na contramão das necessidades da sociedade. A intervenção da PM é marcada pela violência excessiva e na USP não é diferente. As manifestações de 2009 por democracia foram recebidas com bombas e intensa violência contra estudantes, funcionários e professores.

Atuando com a função de repressora política e infringindo a autonomia universitária, ações como essa nos fazem rever o papel da Policia Militar como protetora da sociedade civil. Não podemos deixar de questionar a forma como essas medidas são tomadas.

Depois da resolução do Conselho Universitário que descarta a intervenção da PM no campus, somos comunicados através do USP Destaques que é o Conselho Gestor que discutirá o assunto. Com ações autoritárias e uma reitoria cada vez mais hierarquizada, a direção da universidade se distancia das necessidades da comunidade acadêmica que precisa reivindicar voz nesses processos tão caros ao cotidiano da USP.

retornar ao índice