GU afirma estar abandonada

Não só a PM entra em foco nas discussões sobre a segurança do Campus Butantã, mas também a Guarda Universitária (GU). Alunos e especialistas discutem sobre sua capacidade e atuação. Há dúvidas se os guardas seriam seguranças, vigilantes ou apenas defensores do patrimônio.

Segundo o sociólogo André Zanetic, a função da GU é observar todas as questões de segurança da USP. “Para qualquer ação que necessite o uso da força, eles são obrigados a chamar a polícia”, explica Zanetic. Isto porque a GU não pode exercer nenhum poder a mais que qualquer outro cidadão; nem revistar ou perseguir. “Eles exercem a segurança, mas de forma limitada”, completa.

Mas não foi o que aconteceu com o estudante de artes plásticas, Danilo Bezerra. Em novembro do ano passado, ele foi impedido de entrar no campus na noite de domingo. “Eu não estava com a minha carteirinha USP, mas a minha amiga, que também mora no Crusp, tinha a dela. Mesmo como convidado, não pude entrar”. Danilo também recebeu voz de prisão e não pôde deixar o local até que a Polícia Militar fosse chamada pelos próprios alunos, 40 minutos depois.

O caso foi divulgado pelo JC (Ed. 375). Hoje, há uma sindicância em andamento dentro da Coseas.

O sociólogo conta que a Guarda foi criada nos anos de 1980 pelas próprias Polícias Militar e Civil a fim de ter uma segurança especializada no local. Na teoria, a GU conhece cada ponto da Cidade Universitária, mas na prática, ela é limitada por fatores externos.

Bruno Bélico, funcionário de lanchonete na ECA, foi rendido por dois indivíduos armados e teve o seu carro roubado, em outubro. A Guarda encontrou o veículo na mesma noite, porém informou que não poderia ir até o local – próximo ao muro quebrado que separa a USP da Comunidade São Remo – por falta de segurança. “Se eles não podem circular pelo Campus, quem pode?”, questiona Bruno.

Outro problema da estrutura da corporação é a quantidade de membros. A Folha de S. Paulo divulgou que a GU conta com 130 funcionários. Porém, segundo Zanetic este número representa todos os campi do estado. “No ano passado, eram apenas 65 na Capital”.

Um guarda universitário que pediu para não se identificar, reclama das condições de trabalho. “Não temos treinamento nem equipamento. Só nos dão uma farda e uma viatura”, conta. Segundo ele, os funcionários não têm preparo para abordagens nem para defesa pessoal. “Todo mundo age no ‘oba-oba’”, explica. Ele também afirma que com exceção da parte da manhã, não trabalham mais de dez por turno.

A cisão entre diretoria e funcionários da GU também é visível. Na reunião do Conselho Gestor que decidiu pela presença ostensiva da PM no Campus, um funcionário da Guarda contestou a decisão e pediu para falar. O representante relatou que a Guarda encontra-se abandonada e reivindicou melhorias. Depois de ter conhecimento do conteúdo da fala, o presidente do conselho vetou o pronunciamento do funcionário, alegando que ele não compunha a comissão. Segundo Adrian Fuentes, representante discente do Conselho, o chefe da Guarda fez um sinal de clara desaprovação à fala de seu funcionário.

O JC procurou a GU para falar sobre o assunto, porém os funcionários disseram que apenas a diretoria está autorizada a dar entrevistas e esta não respondeu aos repórteres.