A luta por terras, a luta para sobreviver

“O que vocês vão ver corresponde a um dos exemplos mais graves de violação dos direitos humanos no país”, avisa o jornalista e antropólogo Spensy Pimentel, minutos antes da exibição de dois documentários sobre os índios Guarani-Kaiowá, em evento no dia 14 de junho na FFLCH. Ambos abordam questões que teriam como raiz problemas fundiários.

O primeiro – “Mbaraká: A Palavra que Age” – de Spensy, Edgar Cunha e Gianni Puzzo, contou com recursos do edital Etnodoc. Trata das relações sutis entre a língua guarani, a forma poética com que é empregada e o espírito de resistência de indígenas confinados em pequenas áreas. Será exibido na TV Brasil às 00h do dia 4 de agosto.

Já o documentário “À Sombra de um Delírio Verde” é uma produção independente de Cristiano Navarro, An Baccaert e Nicolas Muñoz, que começou a tomar corpo em 2008. Emprega uma linguagem didática para explicar as consequências da expansão das plantações de cana-de-açúcar sobre esses índios. “Foi um trabalho que me custou muito. Emocionalmente. Pelo envolvimento com a realidade dessas pessoas”, diz Cristiano. Estima-se que em dois meses o documentário esteja na internet.

O xamã guarani-kaiowá Atanásio Teixeira, entrevistado no documentário “Mbaraka – A Palavra que Age” (foto: Spensy Pimentel)
O xamã guarani-kaiowá Atanásio Teixeira, entrevistado no documentário “Mbaraka – A Palavra que Age” (foto: Spensy Pimentel)

Luta por terra

Ambas as produções denunciam que a maior etnia indígena do país, composta por mais de 40 mil pessoas, ocupa a área de oito reservas que somam mais de 18 mil hectares no sul do Mato Grosso do Sul. Os Kaiowá – povo da floresta, em guarani – vivem em barracos de lona e palha, em busca de terras para conseguir produzir alimento. “As necessidades dos indígenas não são as mesmas que as nossas. Falta espaço para essa gente”, fala Cristiano.

Segundo dados divulgados em maio pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o MS obteve aumento 21,38% de área destinada à cana. A commodity ocupa 480,86 mil hectares do estado.

Nesse mesmo ano, o setor sucroalcooleiro ultrapassou a marca de 10 mil trabalhadores libertados pelo Ministério Público em situações análogas à escravidão em todo o país, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT). No caso específico do MS, a maioria dos libertados era indígena. A falta de terra e dinheiro seria um dos motivos para essa situação.

Resistência

Há muitos exemplos de índios mobilizados, que lutam pela manutenção de sua cultura e pela retomada das terras. “Os índios não são ingênuos, coitados. A Aty Guasu (reunião anual dos Guarani-Kaiowá), por exemplo, é um símbolo da resistência”, diz Spensy. Com a luta, vem a violência. Ambos os documentários apresentam casos em que lideranças indígenas receberam ameaças, foram presas arbitrariamente ou assassinadas.

Relatório publicado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), indica que dos 60 índios assassinados em 2009, 33 eram Guarani Kaiowá do MS. Além disso, o estado teve 19 casos de suicídio de índios.