Denúncia & diversão

Com uma manchete que denuncia e diverte, a edição 381 do JC foi ao campus. Sim, nem sempre a denúncia exige chatice no texto e no conteúdo. A chamada de capa consegue muito bem dosar as duas coisas e expõe o ridículo de tentar controlar a festa da juventude universitária – desde o meu tempo, e bota tempo nisso, que as autoridades tentam e não logram êxito. Regulamentar festa é acabar com o conceito de festa. A alegria é a prova dos nove, como disse o bravo poeta e antropófago Oswald de Andrade. O assunto merece cobertura na próxima edição.

Outro tema do qual um jornal universitário não deve fugir nunca é a questão da maconha. É pauta permanente e faz parte da vida acadêmica desde a invenção do ensino superior. O debate da página de Opinião ficou bom e equilibrado, mas o JC ainda deve uma boa reportagem sobre o uso da Cannabis no campus.

Um jornal não deve deixar na mão o leitor que procura, nas edições seguintes, os desdobramentos de casos levantados pelos repórteres. Nesse aspecto, foi mais do que válido o retorno ao caso da suposta agressão da professora da FEUSP a um aluno. Da mesma forma, vale saber a situação do aluno: trancou a matrícula, foi desligado, desistiu do curso, houve pressão?

MP investiga contrato entre FIA e prefeitura” é outro ponto alto da edição. O texto, no entanto, poderia ser mais didático. Explicar, por exemplo, o que é uma dispensa de licitação por “expertise”.

Reconhecer erros é uma virtude, não um crime. A errata tem esse cuidado ao constatar equívoco na reportagem “Tumulto encerra assembleia entre moradores do Crusp”. O termo “errata”, no entanto, é muito formal e burocrático. Talvez seja o caso de criar algo como “O JC errou” ou algo do gênero.

É dever da universidade interferir e dialogar com os acontecimentos políticos e cotidianos do país. Um jornal que cobre o campus, idem, pode fomentar e provocar esse bom embate. Um exemplo é o texto “Senado ouvirá pesquisadores ignorados na Câmara”.

Está chegando a hora de ir, venho aqui me despedir e dizer… com essa edição, amigos, me despeço da função de ombudsman deste JC. Peço as devidas desculpas por eventuais escorregões e pisadas de bola. Acontece. Agradeço aos que fazem este periódico e aos leitores pelo compartilhamento de ideias. Foi lindo. Aprendi mais um pouco a ler o mundo.

Boa sorte aí, rapaziada guerreira. Abraços e contem comigo.

Xico Sá é atualmente colunista esportiva da Folha de S. Paulo, participa do programa Saia Justa, da GNT e Cartão Verde, da Cultura. Já colaborou com a revista Trip e foi apresentador da MTV. É autor de uma dezena de livros, dentre os quais Divina Comédia da Fama e Modos de Machos & Modinhas de Fêmea. Escreva para o ombudsman: ombudsman.jc[@]gmail.com